Lisboa, 24 Abr (Inforpress) – A microbióloga portuguesa Maria Rebelo está a trabalhar na produção de uma proteína que bloqueie o acesso de ligação do parasita que causa a malária à célula do hospedeiro e assim ajudar a travar a doença.
Em declarações à agência Lusa a propósito do Dia Mundial de Luta Contra a Malária, que se assinala quinta-feira, a investigadora contou que toda a sua carreira científica e de investigação foi maioritariamente focada em malária.
“Eu acho que é uma doença super-relevante para a saúde global e, no entanto, às vezes temos a impressão que é negligenciada”, disse sobre esta patologia que matou 608.000 pessoas em 2022.
Em colaboração com o Queensland Institute of Medical Research (QIMR Berghofer), um instituto de investigação médica em Seatle, na Austrália, Maria Rebelo está a testar “uma abordagem completamente nova para tentar prevenir a infeção por malária”.
"[O trabalho consiste no] desenvolvimento de uma molécula (proteína) que consiga impedir que o parasita invada as células do hospedeiro, o que representa uma mudança na terapêutica que normalmente usamos e, desta forma, pode constituir uma nova abordagem terapêutica e ajudar no combate à malária”, disse.
“Estamos a tentar criar moléculas, proteínas desenhadas completamente de novo - que não são baseadas em nada que existe na natureza - e o que queremos que elas façam é que se liguem ao parasita e, ao ligarem-se ao parasita, façam com que o parasita não se consiga ligar à célula do hospedeiro”, explicou.
Na prática, avançou, a equipa está “a tentar bloquear o acesso de ligação do parasita à célula do hospedeiro”.
Ao administrar esta proteína a doentes com malária, o parasita fica incapacitado de infetar novas células e o ciclo da infeção para, pois o parasita não consegue replicar a doença, não conseguindo assim causar doença grave. Por seu lado, os parasitas que lá estão são eliminados pelo organismo e não há parasitas novos.
O projeto está num processo muito inicial e a equipa está atualmente a desenhar a proteína, usando modelos computacionais.
“Depois desse design fazemos a produção da proteína, ensaios com células em laboratório, uma série de ensaios de afinidade e eficácia antes dos ensaios pré-clínicos em modelos animais. Esperamos que daqui a três anos tenhamos os resultados de eficácia pré-clínica e depois partimos para ensaios clínicos em humanos”, disse.
A investigadora considera que, apesar do seu otimismo, a nova molécula não conseguirá chegar aos doentes antes dos próximos oito anos.
Inforpress/Lusa
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