Independência/50 Anos: Crispina Gomes diz que participação da mulher nas esferas de decisão teve avanços mas persistem desafios

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Independência/50 Anos: Crispina Gomes diz que participação da mulher nas esferas de decisão teve avanços mas persistem desafios
07/06/25 - 04:45 am

Cidade da Praia, 06 Jun (Inforpress) – A antiga deputada Crispina Gomes disse hoje que, 50 após a independência, a evolução e participação da mulher nas esferas de decisão em Cabo Verde teve avanços significativos, mas persistem alguns desafios.

Em entrevista à Inforpress, a propósito dos 50 anos da independência, Crispina Gomes, uma das fundadoras da Organização das Mulheres de Cabo Verde (OMCV), considerou que apesar de alguns ganhos persistem alguns desafios, incluindo a sub-representação feminina nas estruturas políticas, a persistência da cultura patriarcal, a percepção negativa sobre a política por parte das mulheres, além das dificuldades na conciliação da vida profissional e familiar. 

Segundo Crispina Gomes, após a independência houve avanços consideráveis da participação das mulheres nas actividades sociais e políticas, destacando a participação de várias mulheres cabo-verdianas numa conferência internacional realizada em Berlim, na Alemanha.

E dessas mulheres cabo-verdianas que participaram nesta conferência, lembrou que ao regressarem a Cabo Verde trouxeram muitas ideias sobre a situação das mulheres no mundo e foi a partir daí que questionaram o que podiam fazer por Cabo Verde.

“Depois de regressarem, essas mulheres começaram gradualmente a fazer contactos numa primeira fase muito limitado, mas depois foram ganhando forças e até criaram a Organização das Mulheres em Cabo Verde”, contou.

Segundo disse, a criação da OMCV foi um passo "importante" para as mulheres no país, porque essa organização desempenhou um papel “essencial” na consciencialização das mulheres no que tange aos seus direitos civis e sociais, formação, emprego e na saúde reprodutiva.

Crispina Gomes, que foi deputada durante vários anos e desempenhou cargos políticos importantes, lembrou que logo após a independência apenas uma mulher foi deputada pela Assembleia Nacional.

No período pré-independência, disse que a participação feminina era “muito reduzida” devido à predominância de uma cultura patriarcal, na qual as mulheres eram privadas de direitos cívicos como o voto.

Crispina Gomes afirmou que “não foi fácil” porque as mulheres estavam apegadas à sua condição de mãe e de esposa, pelo que o desafio era enorme sobretudo na parte de consciencializar essas mulheres sobre a sua situação e que podiam participar na vida política e social do país para além da sua participação na sua família.

Actualmente, destacou, há maior reconhecimento da importância das mulheres na vida política no país, consolidado com a implementação da lei da paridade e das quotas.

Crispina Gomes prosseguiu que as mulheres, actualmente, já se consciencializaram e estão a ser mais reivindicativas, mas não o suficiente porque as mulheres ainda estão “muito mal representadas” nos órgãos eleitos do poder local.

Exemplificou que nas últimas eleições autárquicas que aconteceram em 2024, as mulheres não estiveram suficientes e criticou que, no país, as mulheres estão sempre em pouca quantidade sobretudo nas Câmaras e nas Assembleias Municipais.

“A lei da paridade é uma fantasia e não é na véspera das eleições que se fazem as listas. O trabalho deve ser contínuo e permanente a nível das organizações parlamentares e não só na altura das eleições”, aconselhou.

“Se não estão nesses órgãos não conseguem influenciar políticas e vão continuar a ser cidadãos não intervenientes do seu próprio processo de desenvolvimento", enfatizou.

Declarou que é preciso continuar a fazer com que as mulheres se afirmem mais na sociedade para que possam influenciar políticas e serem objectos e autores da sua própria situação.

A co-fundadora da OMCV defendeu que as mulheres precisam de “diversidade e não de justaposição”, mulheres com sensibilidade política que favorece as próprias mulheres e que abre os caminhos e não seguir políticas que são impostas.

“Já se conseguiu muita coisa, mas ainda estamos aquém de leis que, de facto, vão facilitar as mulheres. Já se caminhou muito, hoje há mais mulheres na política, mas não é só a quantidade é que vale, mas a qualidade e a participação”, finalizou.

DG/HF

Inforpress/Fim

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