Paris, 28 Jun (Inforpress) – O ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Jean-Noël Barrot, afirmou hoje que a França "está pronta, tal como a Europa, para contribuir para a segurança da distribuição de alimentos" no território palestiniano de Gaza, devastado pela guerra.
Falando no canal de notícias LCI, o chefe da diplomacia francesa considerou que tal daria resposta “à questão que preocupa as autoridades israelitas, ou seja, a apropriação indevida desta ajuda humanitária por grupos armados", referindo-se, sem o nomear, ao grupo radical palestiniano Hamas.
Barrot não especificou em que consistiria a ajuda francesa e europeia, mas manifestou a sua "indignação" referindo-se às "500 pessoas (...) que morreram na distribuição de alimentos" em Gaza nas últimas semanas.
Israel aliviou parcialmente, no final de maio, o bloqueio total imposto ao território palestiniano no início de março e que levou a uma grave escassez de alimentos, medicamentos e outros bens essenciais.
Foi estabelecido um mecanismo de distribuição de ajuda humanitária gerido pela Fundação Humanitária de Gaza (GHF na sigla em inglês), apoiada por Israel e pelos Estados Unidos, mas as suas operações têm gerado situações caóticas e mortais.
Segundo o Ministério da Saúde do governo do Hamas em Gaza, quase 550 pessoas foram mortas e mais de 4.000 ficaram feridas nas enormes filas que se formaram para chegar a vários centros de distribuição de ajuda humanitária desde que a GHF iniciou as suas operações no final de maio.
A Defesa Civil do território palestiniano, devastado por mais de 20 meses de guerra, anunciou na sexta-feira que 80 pessoas foram mortas em ataques aéreos ou tiroteios israelitas, incluindo 10 enquanto aguardavam ajuda humanitária.
Em declarações à agência France Presse, fonte do exército israelita disse que aquelas alegações estão a ser investigadas, mas negou categoricamente que os soldados tenham disparado sobre as pessoas que aguardavam ajuda.
Na sexta-feira, o secretário-geral da ONU alertou que o sistema de ajuda imposto por Israel em Gaza estava "a matar pessoas", sublinhando que "qualquer operação que leve civis desesperados para zonas militarizadas é, inerentemente, insegura".
António Guterres falava depois de o jornal israelita Haaretz ter publicado uma investigação que dava conta que soldados israelitas encarregados de supervisionar a entrega de alimentos receberam ordens para disparar deliberadamente contra a multidão, antes e depois da distribuição.
Numa reação às declarações de Guterres, o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel acusou a ONU de estar “a fazer tudo o que pode para se opor a este esforço [da assistência do GHF]”.
"Ao fazê-lo, a ONU está a alinhar com o Hamas, que também tenta sabotar as operações humanitárias do GHF”, referiu, num comunicado, a diplomacia israelita, acrescentando que "culpar Israel pelas falhas da ONU e pelos atos do Hamas é uma tática deliberada".
A guerra no enclave palestiniano foi desencadeada por um ataque do grupo islamita palestiniano Hamas em solo israelita, a 07 de outubro de 2023, que causou cerca de 1.200 mortos, na maioria civis, e fez mais de 200 reféns.
Em retaliação, Israel lançou uma operação militar na Faixa de Gaza, que já provocou mais de 56 mil mortos, segundo as autoridades locais controladas pelo Hamas, a destruição de quase todas as infraestruturas do território e a deslocação forçada de centenas de milhares de pessoas.
Inforpress/Lusa
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