São Filipe, 12 Mar (Inforpress) - O director da Divisão de Ciências Ecológicas e da Terra da Unesco defendeu hoje, em São Filipe, que a conservação da natureza não é um luxo nem um capricho, mas é fundamental para suportar o desenvolvimento socioeconómico.
António Abreu falava durante o segundo dia do II Encontro da Rede de Reservas da Biosfera da Unesco da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que decorre de hoje até sexta-feira, na cidade de São Filipe, ilha do Fogo.
O segundo dia do encontro serviu para discutir o plano estratégico que, segundo o também secretário do programa MaB (Homem e Biosfera, sigla em inglês), é um documento “muito importante” que vai orientar a visão e ambição desta rede, quer no seu trabalho específico em cada país como no seu conjunto.
O plano estratégico vai, sobretudo, determinar como esta rede vai influenciar e participar no programa a nível internacional no seio da Unesco e, para António Abreu é um “grande prazer” ver o esforço que Cabo Verde, em particular, e todos os países da Rede estão a fazer neste sentido, assim como o empenho e capacidade demonstrada nestas reuniões de ter uma visão que é aquela que se procura.
O plano estratégico será aprovado neste encontro e uma vez aprovado será submetido à Unesco para, em Julho deste ano, na reunião anual do órgão que delibera as decisões maiores que é constituído por 34 países, agendada para Marrocos, formalmente, aceitar esta rede como uma rede oficial da Unesco, referiu.
A Rede das Reservas da Biosfera da CPLP é uma rede jovem integrada por reservas que são sítios classificados pela Unesco e que se predispõem para promover a conservação da natureza a partir da identidade cultural e o desenvolvimento socioeconómico das comunidades que vivem nesses territórios, disse.
No total são 748 sítios a nível mundial em 138 países que se organizam em redes com base na geografia ou tema e neste caso a língua portuguesa com os países da CPLP a constituírem a rede para desenvolver trabalhos nas 24 reservas de Portugal, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau. Moçambique e São Tomé e Príncipe, esperando a entrada em breve de Angola e Timor Leste, salientou o especialista.
António Abreu está a acompanhar os trabalhos e a ajudar a desenhar a estratégia desta rede no sentido de ver como ela se posiciona no quadro do programa MaB da Unesco e beneficia do esforço de cooperação dos estados membros.
O responsável lembrou que Cabo Verde as suas reservas são jovens e estão numa fase inicial e o facto de estar nesta rede vai permitir aprender com outras reservas que têm mais anos, indicando que Príncipe é uma reserva que tem 12 anos de sucesso na demonstração do valor da classificação da Unesco, não só na conservação da natureza, mas também na criação de emprego, na dinamização de produtos, bens e serviços com a marca Unesco associada que dão e acrescenta valor a nível local e um posicionamento a estratégico.
“Cabo Verde fazendo parte e tendo um papel liderante (…), mesmo sendo uma reserva jovem vai aprender e partilhar os desafios e os casos de sucesso porque tem havido actividades relevantes e que não é conhecido pelo grande publico”, disse António Abreu.
O director da Divisão de Ciências Ecológicas e da Terra da Unesco e secretário do programa MaB advogou que Cabo Verde deve aprender como comunicar, mobilizar, capacitar os agentes locais e educativos, seja artesãos, agentes turísticos socioeconómicos para beneficiar desta classificação, valorizando os produtos e colocá-los no mercado de uma forma competitiva.
São oportunidades de inovação e desenvolvimento o que significa menor emigração para a procura de novas oportunidades estando num sítio de grande valor reconhecido internacionalmente, mas que por vezes tem limitações e dificuldades no posicionamento no mercado e atrair investimentos sobretudo quando se trata de ilhas.
O plano estratégico é mais um instrumento para fins de educação, sensibilização, oportunidade de emprego, dinamização da economia local, valorização da identidade e do património em harmonia com a natureza a favor do desenvolvimento socioeconómico.
“Temos que acabar com a ideia de que conservar a natureza é impedir o desenvolvimento. A melhor forma de conservar a natureza é utilizá-la de forma sustentável. É isso que a Unesco pretende fazer nas comunidades com participação das próprias comunidades”, sustentou o especialista.
António Abreu destacou ainda o empenho, a criatividade e a visão muito abrangente e ambiciosa que as reservas da CPLP querem assumir e pode ser um contributo valioso para a melhoria do próprio programa, acrescentando que do plano pode-se tirar lições que vão ser partilhadas com outras redes.
A transferência do conhecimento e a visão do contributo que estas reservas podem dar para a paz entre as pessoas e a natureza é um “valioso contributo” além dos projectos que vão ser apresentados como turismo sustentável, valorização das paisagens e mapeamento dos serviços de ecossistema.
“Há desafios, apoios e oportunidades e temos de ser inteligentes para conhecer a potencialidade e as dificuldades e adaptar-se a essas situações”, disse, lembrando que a sustentabilidade é sempre um desafio de longo prazo.
O II Encontro da Rede de Reservas da Biosfera da Unesco da CPLP conta com a participação de especialistas técnicos e quadro técnicos das Reservas da Biosfera e/ou comités de MaB nacionais, quadro dos ministérios com competências sobre as reservas e representantes das reservas do Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe.
O Projecto Rede de Reservas da Biosfera da CPLP, denominado de “CPLP MaB” é implementado desde Janeiro de 2022, pela Associação para a Cooperação e o Desenvolvimento (Actuar).
JR/CP
Inforpress/Fim
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