São Filipe, 11 Out (Inforpress) – O artesão de Chã das Caldeiras José Neemias Fernandes, conhecido como Neemias, que trabalha na extração da “pedra mole”, a única da localidade, enfrenta desafios para comercializá-la fora da Caldeira devido a restrições do Parque Natural.
A “pedra mole”, como é designada, de cor acastanhada, é originada pelas erupções vulcânicas e é valorizada pela sua versatilidade.
É utilizada em obras de arte, revestimento de paredes e decoração de interiores e é muito procurada por pessoas que a consideram superior ao mármore, devido à sua “qualidade e beleza incomparável”, após trabalhada”, segundo o artesão.
Em entrevista à Inforpress, Neemias contou que a mina de onde extrai a “pedra mole” está situada numa propriedade familiar, localizada junto ao “vulcãozinho” [picos surgidos com as erupções de 1995 e 2014] e considerou o sítio como “área de exploração rica”, mas com limitações impostas pelo Parque Natural do Fogo (PNF).
Segundo o artesão, as pedras brutas depois de trabalhadas só podem ser comercializadas dentro da Caldeira, o que dificulta a expansão do negócio para além de Chã das Caldeiras, onde existe uma demanda crescente de pessoas interessadas neste produto.
Observou que cada metro quadrado é comercializado por oito mil escudos, que tem “muitas encomendas” de pessoas residentes fora de Chã das Caldeiras, mas que não as pode satisfazer porque o PNF não permite.
A título de sugestão, o artesão apelou à direcção do PNF a emissão de permissão para uma exploração controlada ou incentivar o uso das pedras nas obras dos governos, local e nacional, como forma de apoiar à economia local, sobretudo dos jovens que enfrentam problema de falta de emprego.
Este tipo de pedra existe em menor quantidade que outros tipos que existem dispersas na Caldeira e tem usos variado, desde a decoração de cozinhas e salas até na confecção de objectos de arte e de esculturas como moinho, pilão, vasos de plantas, e de móveis como cadeiras e mesas de menor dimensão, e outros tipos de artesanato, destacou o artesão.
O processo de extração pode, em alguns casos, envolver escavações com profundidade superior a dois metros, disse Neemias, que acrescentou que a pedra é transformada em espécies de mosaicos e blocos com recursos a ferramentas específicas como a rebarbadora.
Neemias, que aprendeu a arte de trabalhar com pedras com o pai, em 2014, criou a empresa Adega Manecom e Uvas Secas e, além de trabalhar com pedras, também se dedica à produção local de vinho manecom e empacotamento de produtos como uvas, figos secos e marmelada.
A maior parte das casas de Chã das Caldeiras são revistas com um outro tipo de pedra e apenas os edifícios públicos estão revestidos com “pedra mole”, referiu Neemias, que sublinhou que existem várias tipologias de pedras no interior da Caldeira que podem ser exploradas e comercializadas.
Além de trabalhar a pedra, o artesão sonha em expandir sua actividade e aguarda, há três anos, por um financiamento governamental para a construção de uma mini adega para demonstração do processo de produção de vinho e promover degustações e outras actividades ligadas ao turismo, como vendas de ‘souvenir’.
Apesar do seu empenho, Neemias enfrenta os desafios das restrições impostas pelo Parque Natural do Fogo, que limitam sua capacidade de expandir os negócios de comercialização de pedras e de contratar mais mão-de-obra.
A mesma fonte considerou ainda que a exploração das pedras seria uma “excelente alternativa económica” para Chã das Caldeiras e meio para combater a pobreza e oferecer oportunidades de crescimento com rendimento superior ao gerado pela agricultura.
“A exploração controlada dessas pedras seria um grande investimento para a Chã das Caldeiras”, afirmou Neemias, que enalteceu o potencial dessa actividade para transformar a realidade económica local.
Acrescentou que muitos não estão a explorar esta actividade dada a proibição da sua comercialização fora de Chã das Caldeiras, imposta pelo Parque Natural do Fogo.
JR/AA
Inforpress/Fim
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