São Filipe, 27 Out (Inforpress) – O frei António Fidalgo de Barros, o primeiro padre a ordenar-se na ilha do Fogo, comemora, hoje, as bodas de ouro sacerdotais com missa na Igreja de São Lourenço, onde foi ordenado há 50 anos.
O frei António Fidalgo de Barros foi ordenado padre em 22 de Setembro de 1974, tornando-se o primeiro sacerdote da ilha do Fogo a ordenar-se na sua própria ilha.
A cerimónia da sua ordenação, explicou, foi pelas mãos do então bispo Dom Filipe do Carmo Colaço, marcou um momento histórico para a comunidade local, pois foi a primeira vez que os moradores do Fogo presenciaram uma ordenação sacerdotal na sua própria terra.
O frei António Fidalgo de Barros ao reflectir sobre sua trajectória, destacou o privilégio de ser o primeiro padre cabo-verdiano a alcançar essa marca, mencionando que outros colegas estão próximos de completar 50 anos na vocação, mas outros não tiveram a mesma oportunidade, pois faleceram antes.
Ele expressou a sua gratidão a Deus e reconheceu que sua jornada foi marcada por "muitos favores e luzes que vieram do alto", além de apoio espiritual em momentos de provação.
“O percurso foi muito lindo e dou graças a Deus porque recebi muitos favores do alto (..) e como diz Santo Agostinho, a igreja é acompanhada pelas consolações do Espírito Santo e pelas perseguições”, referiu o frei.
Com uma carreira ministerial que começou no Fogo e se estendeu a São Vicente, Porto Novo, e Praia, frei António trabalhou activamente em várias ilhas, incluindo actividades pastorais e apoio comunitário em Santo Antão, São Nicolau, Sal, Boa Vista e Maio.
“Eu programei assim”, explicou ele, sobre a escolha de celebrar o jubileu em diversas ilhas. “Queria dar tempo para as comunidades se prepararem, então deixei o Fogo por último”.
Na ilha do Fogo passou cinco anos logo depois à sua ordenação, três dos quais como vigário, paroquial e dois como pároco, como os Capuchinhos decidiram abrir uma presença em São Vicente, o frei foi um dos escolhidos, juntamente com os padres Federico e Cassiano para abertura desta presença na ilha de Porto Grande.
“Eu programei assim a comemoração na ilha do Fogo, porque o novo pároco de São Lourenço só chegaria duas semanas antes dessa data. Para dar tempo para preparar e para ver as coisas, colocamos o Fogo em último lugar. Mas eu já celebrei em S. Vicente, onde passei 34 anos, e foi uma festa muito bonita. Também celebrei na Praia, por iniciativa do cardeal, e em Porto Novo”, disse.
O frei acrescentou que hoje, 27 de Outubro, é na sua ilha natal, Fogo, mais especificamente em São Lourenço, na mesma igreja onde foi ordenado padre há 50 anos.
Durante a celebração, ele vai reforçar a importância de responder ao chamado vocacional, especialmente para despertar nos jovens essa vontade de seguir por um caminho que não está na moda hoje, mas que vale a pena.
A mensagem da eucaristia solene será sobre a “cura dos cegos” porque, segundo o mesmo, “Jesus veio para dar visão aos cegos, aos que não têm luz” e sublinhou que é uma mensagem “muito importante que vem do Evangelho”.
“Alguns pensam que vêem, mas são cegos; aqueles que pensam que vêem se tornarão cegos, mas aqueles que declaram que precisam de luz, verão”, enfatizou o frei referindo com expressão do evangelho aos fariseus e os doutores da lei, que achavam que não precisavam dele, e já sabiam de tudo.
Segundo o mesmo, trata-se de uma mensagem “fundamental” para a juventude com a qual pretende encorajá-los a reflectir sobre o verdadeiro propósito da vida.
Além da mensagem o frei vai contar um pouco a história da sua vocação e lembrou que não vai celebrar a sua pessoa, mas a pessoa do próprio Deus que lhe chamou há mais de 50 anos, através do padre Fidélis Miralho.
Antes do frei António Fidalgo de Barros, o primeiro padre da ilha foi Viriato Gonçalves que depois deixou a função, mas ele ordenou-se na Cidade da Praia e depois, nas proximidades do ano 2000, outros padres da ilha do Fogo, diocesano e capuchinos ordenaram-se na ilha.
Frei António ordenou-se praticamente um ano antes da independência de Cabo Verde, num momento que considerou “muito controverso e muito pouco claro” com as pessoas divididas, algumas queriam a independência e outras não.
“Como padre, eu já tinha interiorizado a ideia de que valia a pena, não só Cabo Verde ser independente, mas dar o meu contributo. Eu pensava naquela época, hoje não sei o que faria, mas como dizem, nunca se volta atrás”, advogou o frei.
O mesmo acrescentou que naquela época, como estudante de teologia na Itália, interiorizou a ideia de que deveria abraçar essa causa, mas sem incomodar a sua vocação de padre e sublinhou que seguiu a sua vocação, mas não deixou de dar a sua contribuição para que Cabo Verde fosse independente.
A missa em comemoração das bodas de ouro sacerdotais do frei António Fidalgo de Barros é organizada pelos Irmãos Capuchinhos e a paróquia de São Lourenço e conta com a presença do secretário de Estado-adjunto do primeiro-ministro, Lourenço Lopes, e do presidente da câmara de São Filipe.
JR/ZS
Inforpress/Fim
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