São Filipe, 16 Jul (Inforpress) – Os deputados do PAICV (oposição), eleitos pelo círculo do Fogo expressaram, no final da visita à ilha, "profunda preocupação" com os desafios enfrentados pelo sector agrícola e pelo abastecimento de água para a agricultura.
Os parlamentares do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), Eva Ortet e Luís Pires, expressaram preocupação no quadro da preparação do debate parlamentar sobre o Estado da Nação, sublinhando que a situação do sector é “crítica”.
Relativamente ao ano agrícola, os parlamentares destacaram que os agricultores se queixam da escassez de mão de obra e receiam que, mesmo que chova, muitos campos continuem por cultivar como aconteceu no ano passado.
Outra questão preocupante é a situação da água para agricultura.
Durante uma visita à Empresa Intermunicipal de Águas, Águabrava, ficou "claro que a transferência da gestão da água para agricultura não foi acompanhada de um plano de apoio eficaz por parte do Governo".
Segundo os deputados, a empresa enfrenta sérias dificuldades financeiras e os custos de produção da água são elevados, cerca de 190 escudos por metro cúbico, enquanto a venda para irrigação é de apenas 70 escudos. Isso significa que, a cada metro cúbico vendido, a Águabrava acumula um prejuízo de 120 escudos.
Apesar de ter realizado alguns investimentos próprios na prospecção de água subterrânea, a empresa não tem conseguido expandir a área irrigada nem responder à crescente demanda por água destinada à agricultura, o que inviabiliza qualquer projecto de expansão agrícola na ilha.
Além disso, os parlamentares acusam o Governo de ignorar os apelos por subsídios à electricidade utilizada na bombagem de água, um factor crucial dado os elevados custos energéticos envolvidos no processo de exploração e fornecimento de água.
“Não há como falar de desenvolvimento agrícola sem um sistema de irrigação eficiente e acessível”, reforçaram Eva Ortet e Luís Pires.
Ambos lamentaram a ausência de respostas por parte do Governo ao pedido de isenção da taxa de perfuração apresentado pela Águabrava, bem como o abandono de um parque fotovoltaico que poderia ajudar a reduzir os custos de energia.
A crise estende-se a outras infra-estruturas ligadas à agricultura como o centro pós-colheita que permanece abandonado há quase 10 anos.
Os deputados referem que a Câmara Municipal de São Filipe solicitou ao Governo a gestão do espaço para colocá-lo a serviço dos três municípios da ilha, mas o pedido foi recusado, levando à contínua degradação do edifício.
Para os parlamentares do PAICV, há um claro abandono do sector agrícola por parte do Governo e reiteram que a responsabilidade não pode recair apenas sobre as câmaras municipais ou sobre a Águabrava.
"A Águabrava não tem a responsabilidade de promover a agricultura. Essa é uma tarefa do Governo”, afirmam, lembrando que a empresa tem adoptado medidas para minimizar os impactos financeiros negativos, o que, no entanto, ainda não permite a ampliação de área irrigada nem o atendimento às solicitações dos horticultores com parcelas irrigadas.
JR/HF
Inforpress/Fim
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