São Filipe, 11 Out (Inforpress) – A conservação eficaz dos recursos marinhos só é possível com o envolvimento das comunidades piscatórias que são os principais utilizadores desses recursos, defendeu hoje Benalsy Varela, representante da Fundação Maio Biodiversidade.
A mesma fonte apresentou hoje, durante o IV painel da IV Conferência da Década do Oceano um projecto inspirador da conservação marinha na ilha do Maio intitulado “Mulheres do mar”: protagonismo feminino na gestão sustentável dos recursos pesqueiros.
O programa, implementado em 2024 com o financiamento da organização Blue Ventures, visa envolver directamente as comunidades piscatórias na conservação e protecção ambiental, um passo considerado “essencial” pela Fundação para garantir a eficácia das acções de preservação porque acredita que uma conservação eficaz não pode ocorrer sem o envolvimento das comunidades piscatórias.
Aquela responsável partilhou que a trajetória do projecto até à sua implementação foi marcada por desafios e conquistas e que, apesar das mulheres da ilha do Maio sempre terem demonstrado interesse, foi necessário um trabalho contínuo de capacitação, sensibilização e empoderamento.
As actividades, explicou, começaram com a construção de um relacionamento de confiança com as comunidades, seguido por um processo de formação intensiva sobre temas como conservação marinha, gestão de recursos, espécies-chave, áreas marinhas protegidas e técnicas de monitorização.
Hoje, seis mulheres da comunidade de Calheta lideram o trabalho de recolha de dados sobre os recursos pesqueiros, uma função “essencial” para a gestão sustentável dos ecossistemas marinhos, disse Benalsy Varela, que lembrou que essas mulheres foram também capacitadas no uso de ferramentas tecnológicas e metodologias de recolha de dados para garantir maior precisão e credibilidade.
Um dos marcos deste programa é a introdução da monitorização comunitária, em que as próprias peixeiras realizam a colheita de dados sobre os recursos marinhos que utilizam diariamente.
Essa abordagem fortalece o vínculo entre a comunidade e o meio ambiente, promovendo uma cultura de co-responsabilidade na conservação.
“Não foi um processo rápido. Trabalhamos passo a passo, respeitando o tempo de aprendizagem e criando oportunidades reais de participação”, contou Benalsy Varela.
Apesar dos avanços, apenas um ponto de desembarque na ilha do Maio é actualmente monitorizado pelo Instituto do Mar (IMar) e a Fundação Maio Biodiversidade pretende expandir o programa para outras comunidades da ilha, permitindo que mais pontos de desembarque sejam incluídos no sistema de monitorização.
Além disso, a meta é que os dados recolhidos pelas próprias comunidades passem a ser incorporados nas políticas e estratégias de gestão nacional dos recursos marinhos, reforçando o papel das comunidades locais na tomada de decisão.
Com o programa “Mulheres do Mar”, a ilha de Maio torna-se referência nacional na integração entre conservação ambiental, igualdade de género e gestão participativa dos recursos marinhos, um modelo que pode inspirar outras regiões do arquipélago.
JR/ZS
Inforpress/Fim
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