Escola para deficientes visuais promove inclusão há mais de quatro décadas

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Escola para deficientes visuais promove inclusão há mais de quatro décadas
26/06/25 - 02:32 pm

Cidade da Praia, 26 Jun (Inforpress) – O fundador da Escola de Pessoas com Deficiência Visual, Manuel Júlio, disse hoje que a instituição, criada há mais de quatro décadas, promove a inclusão, apesar de enfrentar limitações financeiras e estruturais desde a sua fundação.

Em declarações à imprensa, Manuel Júlio, que emprestou o próprio nome à escola, revelou que perdeu a visão ainda criança e, que após estudar em Angola e Portugal, regressou a Cabo Verde com o propósito de ajudar outros na mesma condição.

“Começámos as aulas na minha própria casa. Trabalhava durante o dia, estudava à noite e dava aulas duas vezes por semana aos colegas com deficiência visual”, recordou.

O projecto, segundo explicou, começou de forma informal em meados 1977 e só viria a ter um edifício próprio em 2002, graças ao apoio de instituições como a Câmara Municipal da Praia, o Governo, a Cruz Vermelha de Cabo Verde e parceiros internacionais.

“Hoje temos ex-alunos formados em Psicologia, Direito, História e Educação, e muitos já estão inseridos no mercado de trabalho”, disse.

O vice-presidente da Associação de Deficientes Visuais de Cabo Verde (Adevic), Amâncio Montrond, por sua vez, sublinhou que a criação da escola permitiu a inserção de pessoas com deficiência visual no sistema educativo e no mercado de trabalho, que antes ficavam confinadas em casa e dependentes da superprotecção dos familiares.

“A primeira mudança fundamental foi tirar essas pessoas daquele cantinho de conforto para aprenderem a ler, a escrever, viver, desenvolver competências nas áreas da música e noutras áreas conforme a aptidão de cada um”, realçou, afirmando que, desde a escolaridade primária até ao nível superior, muitos conseguiram formar-se e hoje estão inseridos no mercado de trabalho.

Apesar dos avanços, apontou as dificuldades financeiras e de recursos humanos como os principais desafios ao longo dos anos, sublinhando que, sem financiamento estável, não conseguem garantir os profissionais necessários para dar toda a cobertura.

Neste sentido, alertou para as dificuldades que persistem no quotidiano das pessoas com deficiência visual, desde barreiras arquitectónicas à falta de sinalizações sonoras e em Braille nas vias públicas, defendendo uma maior parceria entre o Estado, o sector privado e a sociedade civil para garantir a verdadeira inclusão social.

Já o professor Manuel Montrond, que trabalha com pessoas com deficiência visual nesta escola, desde 2009, lamentou a falta de materiais didácticos, considerando ser esse o maior desafio ao ensino de qualidade.

Apontou ainda a necessidade de mais apoio do Ministério da Educação e de instituições parceiras para implementar projectos e adquirir materiais básicos como impressoras e máquinas de cópias.

Apesar das dificuldades, afirmou que o trabalho com essas pessoas é movido por paixão.

“É preciso paciência, é preciso determinação, coragem e saber lidar com eles”, concluiu.

DV/SR//HF

Inforpress/Fim

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