Pedra Badejo, 12 Jul (Inforpress) – O ministro da Cultura, presidente da Câmara Municipal de Santa Cruz e as batucadeiras, reafirmaram hoje o papel fundamental de Nha Nácia Gomi na história do batuco e no fortalecimento do empoderamento feminino em Cabo Verde.
Reunidos em Santa Cruz no 3.º encontro nacional de batuco, evento que também celebra o centenário da icónica cantora e batucadeira Nha Nácia Gomi, uma das maiores referências da música tradicional na ilha de Santiago, os participantes destacaram a sua contribuição para a cultura cabo-verdiana.
Em declarações à imprensa, o ministro da Cultura e das Indústrias Criativas, Augusto Veiga, destacou que Nha Nácia Gomi foi uma “pioneira que não apenas enriqueceu o batuco, mas também promoveu a autonomia das mulheres, muitas das quais eram mães e chefes de famílias monoparentais”.
Segundo ele, o batuco, embora tradicionalmente dominado por mulheres, vem passando por uma transformação com maior presença masculina, mas o papel das mulheres permanece vital para a essência do género, que serve como ferramenta de diversão e empoderamento.
Igualmente, o presidente da Câmara Municipal de Santa Cruz, Carlos Silva, também enalteceu a luta de Nha Nácia Gomi pela preservação da cultura e pelo fortalecimento das mulheres na sociedade.
“Ela foi uma grande defensora da independência cultural e um exemplo de coragem e resistência”, afirmou Silva, acrescentando que o batuco ajuda as mulheres a expressarem-se, demonstrarem alegria e melhorarem a sua auto-estima, contribuindo para uma vida mais saudável e plena.
Presente no evento, o neto de Nha Nácia Gomi, José Correia, ressaltou a importância da sua avó na história do batuco e da cultura cabo-verdiana.
“Ela foi uma mulher de Deus, uma figura que deixou um legado na literatura oral e na história do nosso país. Quando se fala do batuco, Nha Nácia Gomi está sempre no centro”, afirmou Correia, destacando que ela é um património de Cabo Verde.
Da parte dos grupos de batuco, a cantora Teresa Fernandes, do grupo Tradison di Terra, também lembrou que Nha Nácia Gomi abriu caminhos para as gerações futuras e se hoje, muitas mulheres cantam e se expressam é graças a ela.
“A sua luta foi silenciosa, mas poderosa, mostrando que o batuco é liberdade e resistência”, destacou Fernandes.
A integrante do grupo Batucadeiras Raíz de Tambarina, Rosa Martins, enfatizou que Nha Nácia Gomi foi uma mulher guerreira, que levou o batuco além-fronteiras e deixou um legado de força e coragem.
“Se estivesse viva, neste dia 18 de Julho, ela completaria 100 anos. O seu exemplo mostra que a paixão pela cultura e o empoderamento feminino caminham juntos”, declarou Martins.
Igualmente, o grupo de Batucadeiras Porto Madeira, representado por Liliana Correia, também ressaltou o papel de Nha Nácia na formação de uma nova geração de artistas.
“Ela despertou uma paixão pelo batuco que deve ser preservada e levada adiante, com a mesma dignidade e garra que ela teve”, afirmou Correia.
Nha Nácia Gomi, que faleceu no mês de Fevereiro de 2011, permanece como símbolo de resistência cultural e do empoderamento feminino em Cabo Verde.
A sua trajectória inspira mulheres a conquistarem o seu espaço através da cultura, mostrando que a força, a dedicação e o amor pela tradição podem transformar vidas.
Nascida em 1925, em São Miguel, ilha de Santiago, Nha Nácia Gomi destacou-se como cantora tradicional, guardiã da memória colectiva e uma das mais genuínas representantes do Finason e outras expressões musicais e espirituais de matriz africana e crioula.
Nha Nácia Gomi, muito mais do que uma cantora, era uma mulher profundamente ligada aos valores da terra, da religiosidade popular e das práticas tradicionais.
MC/HF
Inforpress/Fim
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