*** Por Américo Antunes, da Agência Inforpress ***
Mindelo, 12 Set (Inforpress) – O convite era para um concerto para marcar os 100 anos do nascimento de Amílcar Cabral, mas Dany Mariano, uma das vozes convidadas, “rompeu o protocolo” e revelou carta de Cabral para o avô Djô Figueira, de 1943.
A revelação apanhou os presentes, na Praça Nova, de surpresa, mas lá Mariano admitiu “emoção e muita alegria” no momento, pelo convite da organização, pediu compreensão à plateia, já que, expressou, não poderia deixar passar a circunstância sem revelar a história.
Esta envolve Amílcar Cabral, ou melhor Amílcar da Académica, como era conhecido o herói nacional à época, futebolista da Micá do Mindelo, contava 19 anos, e o avô de Dany Mariano, José Figueira, conhecido como Djô Figueira.
Em concreto, explicou Mariano, Cabral foi à casa de Djô Figueira, pelos lados da Casa Serradas, no Mindelo, à hora do jantar, no seu último ano em São Vicente, 1943, entregar em mãos uma carta ao famoso futebolista do Mindelense, que em breve iria ser alvo de uma homenagem.
O cantor saca da bolsa que traz consigo uma cópia da carta de Cabral e lê partes para uma plateia em silêncio que só “acorda” no fim da leitura com uma valente salva de palmas.
No fundo, Amílcar da Académica quis deixar escrito que concordava e anuía à distinção feita a Figueira já que, para ele, tudo contado por Dany Mariano, Djô Figueira era “um exemplo” no campo do desporto.
De regresso ao concerto, que durou pouco mais de uma hora, coube a Diva Barros abrir o palco com o tema “Regresso”, de Amílcar Cabral, seguido de Dany Mariano, que depois da história do Amílcar da Académica, ainda cantou “Mi é dod na bô Cabo Verde”, da sua autoria.
Jenifer Solidade trouxe “Alto Cutelo”, mas antes da interpretação deu conta da “importância” de, no dia dos 100 anos do nascimento de Amílcar Cabral, ter à frente uma plateia “cheia de jovens”, na Praça Nova, uma “satisfação”, com disse.
À medida que o desfile de artista prosseguia chegava mais gente à Praça Nova, mas como foi tudo muito rápido e organizado quem se atrasou ainda foi a tempo de assistir apenas às actuações de Gay Dias, que interpretou “Flôr de nôs revolução”, de Dany Mariano, Jorge Sousa (Força de cretcheu – Eugénio Tavares), Carmen Silva (Um sunhá – Kes Moss) e Edson Oliveira (Nôs raça – Manuel d’Novas).
Por fim, para fechar “em grande”, como anunciou Conceição Delgado, da organização do concerto, os oito interpretes juntaram-se no palco para interpretarem o sugestivo tema “Cabral ka mori”, de Daniel Rendall.
Momento alto para fechar um fim de tarde na Praça Nova, de música-que-marcou-uma-época, justamente no dia dos 100 anos do nascimento de Amílcar Cabral, mas marcada também pelo gesto altruísta de Cabral, aos 19 anos, de reconhecer o mérito no seu semelhante e deixar tudo escrito.
O evento foi organizado pela empresa MariVentos, enquadrado no projecto “Concertos com História,” que até agora com a subvenção da Procultura do Camões, gerido e co-financiado pelo Camões - Instituto da Cooperação e da Língua, I.P.
Entretanto, a parceria terminou em Maio último, mas a MariVentos decidiu assumir a iniciativa como um produto que quer colocar na agenda cultural de São Vicente.
AA/JMV
Inforpress/Fim
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