***Por: Simão Rodrigues, da Agência Inforpress***
Cidade da Praia, 06 Abr (Inforpress) – A comunidade piscatória do Porto Mosquito, no interior da Ribeira Grande de Santiago e localizada no parque de reserva natural da Baía do Inferno, mostra-se parcialmente sensibilizada a nível do ambiente e da biodiversidade nesta área protegida.
Porto Mosquito constitui, juntamente com o Porto Rincão (Santa Catarina de Santiago), as duas comunidades piscatórias que, juntamente com a comunidade serrana de Entre Picos de Reda, se afiguram como espaços em que a interacção entre o homem e o ambiente torna-se determinante para a valorização da biodiversidade, neste perímetro que há três anos passou a estar incluída na Rede Nacional das Áreas Protegidas.
Detentora de falésias de mais de 500 metros, com uma área total de 21.096 hectares, dos quais 3.626 terrestre e 17.470 hectares marinha, esta área protegida diferencia-se das demais pela sua diversidade considerável desde “paredes coralíferas a grutas, túneis e canais, e até montanhas com vistas para o abismo”.
Segundo estudos técnicos/científicos, a Baía do Inferno hospeda uma das mais importantes colónias de aves marinhas de Cabo Verde, com a particularidade para colónia de alcatraz e uma das maiores de rabo-de-junco de toda a África Ocidental, que ali se nidificam.
Outrossim, a área “detém cinco das oito espécies de aves marinhas que nidificam neste país, pelo que diversas ONG ligadas à preservação e defesa do ambiente associam-se às universidades nacionais e estrangeiras, visando ampliar as iniciativas em torno da Baía do Inferno e do Monte Angra.
Dada a sua localização geográfica, inserida no Parque Natural da Baía do Inferno e Monte Angra, a população ali residente sente-se comprometida na busca de sustento para se sobreviverem e com desenvolvimento da própria comunidade e o equilíbrio com o ambiente e a biodiversidade, numa localidade sem grandes alternativas.
A pesca é tida como uma das principais actividades económicas, razão pela qual a população, sobretudo pescadores, peixeiras, armadores e quem do mar procura sobreviver têm sido sistematicamente sensibilizados, principalmente com acções levadas a cabo pelas ONG ligadas ao meio ambiente.
Anolasco Almeida, mais conhecido por Beja, 42 anos, é um dos pescadores que. há mais de 30 anos, labuta diariamente na baía de Porto Mosquito, navegando pelos berçários da Baía do Inferno.
Disse que apesar de muita sensibilização, ainda não encontrou uma alternativa credível para deixar de pescar nesta área, já que “chuva na terra… nem vê-la”.
Na qualidade de um dos pescadores que labutam nas 74 pequenas embarcações de pesca nas proximidades desta reserva natural, admite que de quando em vez driblam os ambientalistas e defensores da reserva, alegando que apesar da proibição imposta e das campanhas de sensibilização, há sempre a tentação de ali capturar peixes.
Disse que assim como os pescadores desta comunidade está sensibilizado de que não vale a pena pescar peixes de pequenas dimensões, ou as espécies consideradas proibidas, face às “muitas limitações impostas”, mas que por falta de alternativas credíveis para sustentar a família, não resiste à tentação de pescar nestas áreas protegidas, assim como nas áreas de Romporco, Papaia e Angra.
Ainda assim, afirmou que os pescadores do Porto Mosquito dedicam uma particular atenção aos ensinamentos dos biólogos marítimos, como os da Associação Lantuna, uma ONG, de ambiente e desenvolvimento interessada na conservação e protecção da Baía do Inferno e pelo Monte Angra, enquanto espaços naturais, com foco no desenvolvimento das comunidades e das sociedades, aos níveis local e global, em equilíbrio com o ambiente e a biodiversidade.
Opinião corroborada pela jovem que responde por Nádia e que abandonou os estudos aos 15 anos por causa de “uma gravidez espontânea”, ao garantir que contrariamente às práticas de antanhos, hoje em dia grande parte da população trabalha para a protecção ambiental “com medo de perder o futuro da localidade”.
A apanha da areia nas praias, aportou, deixou de ser uma prática corrente, afirmando que se torna mais viável investir nos estudos e formações em busca de uma profissão adequada, do que degradar o ambiente.
Edmilson Gomes é um dos técnicos da Lantuna que labora neste Parque Natural de Baía do Inferno e Monte Angra, mediante a monitorização e o censo das aves como alcatraz e rabo-junco e na biodiversidade marítima através das câmaras subaquáticas e nas costas desta falésia.
Afirmou que desde Maio de 2021 iniciaram um trabalho intenso de sensibilização aos trabalhadores e a população local, assegurando que já há resultados concretos.
Como exemplo, disse que actualmente a árvore espinho branco, uma espécie endémica em vias de extinção e que falece pela influência da acácia americana e que outrora fora um dos alvos dos pescadores para a construção de botes, deixaram de ser utilizadas nessa arte.
Os maiores desafios, relata, são os obstáculos para trepar as montanhas, admitindo, por outro lado, que apesar da “teimosia dos pescadores” já se nota uma sensibilização, tendo em conta que diminuiu, de forma considerável, a captura das tartarugas e aves na linha de pesca.
SR/HF
Inforpress/Fim
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