Cidade da Praia, 15 Out (Inforpress) - Cabo Verde recebeu avaliação positiva da Unesco para a candidatura do Campo de Concentração do Tarrafal como lugar de memória associado a conflitos recentes e tem até 31 de Janeiro de 2027 para entregar o dossiê final.
A informação foi avançada hoje em conferência de imprensa por Ana Samira Baessa, presidente do Instituto do Património Cultural (IPC) e por Sandra Mascarenhas, coordenadora técnica da candidatura.
“Recebemos uma avaliação preliminar positiva da Unesco, o que marca uma etapa crucial no processo de candidatura do Tarrafal a Património Mundial”, precisou a presidente do Instituto do Património Cultural, Ana Samira Baessa.
Para a presidente do IPC, o relatório preliminar constitui uma base “sólida e encorajadora” para os trabalhos que vão agora continuar.
“Este processo exige envolvimento técnico, científico e diplomático, envolvendo todos os países cujas memórias estão ligadas ao Tarrafal, bem como apoio internacional, como do Fundo Africano do Património Mundial e da China”, acrescentou a presidente do IPC.
“Estamos no bom caminho, e cabe agora a Cabo Verde aprofundar as recomendações e preparar o dossiê definitivo para 2027”, vincou, por seu lado, a coordebadora técnica da candidatura, Sandra Mascarenhas.
Conforme frisou, a avaliação reconhece o Tarrafal pelo seu valor histórico enquanto prisão ligada à luta contra regimes totalitários e sublinha o seu simbolismo de liberdade, resiliência e condição humana. Diferente de outras prisões internacionais, o Tarrafal possui dimensão nacional, regional e internacional.
Segundo a coordenadora, a Unesco recomenda condições de habitabilidade para as 16 famílias residentes nos anexos do campo, definir o regime de propriedade e ocupação do solo, elaborar planos de gestão, de riscos e instrumentos de protecção do sítio, valorizar não apenas o espaço físico, mas também a dimensão imaterial do Tarrafal, e promover uma interpretação global, envolvendo países ligados historicamente ao campo.
“Não vamos expulsar as famílias que vivem nos anexos do Tarrafal, mas é preciso garantir condições de habitabilidade, com água, luz e reabilitação das casas, preservando a autenticidade e integridade do sítio”, concretizou.
Sandra Mascarenhas garantiu que Cabo Verde já iniciou o trabalho necessário para atender às recomendações, ampliando a visão do Tarrafal para todo o sítio e planeando uma interpretação global do espaço, incluindo a colaboração de países como Angola, Guiné-Bissau e Portugal.
Esta candidatura é igualmente uma forma de marcar, para toda a humanidade, aquilo que aconteceu neste arquipélago durante 38 anos, num lugar onde foram depositados cerca de 600 presos políticos, naturais de Cabo Verde, Angola, Portugal e Guiné-Bissau, em condições desumanas.
O Governo de Cabo Verde, através do Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas e sob coordenação do Instituto do Património Cultural, apresentou, em 2024, a estratégia de candidatura do Campo de Concentração do Tarrafal a Património da Humanidade, no âmbito da celebração dos 50 anos de 25 de Abril e 50 anos do encerramento deste Campo Concentração.
TC/ZS
Inforpress/Fim
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