
Cidade da Praia, 07 Nov (Inforpress) – A autora cabo-verdiana Lourença Tavares lança hoje, na Praia, o livro “Os escombros da vida”, uma obra que resgata as memórias da guerra em Angola em 1974, quando aos 13 anos, viu a sua infância interrompida pelo conflito.
O livro, editado em parceria com a Editora Novembro e o Liceu Domingos Ramos, culmina num momento de reflexão profunda para a escritora, que também preside à Associação Crianças Desfavorecidas (Acrides).
Em declarações à Inforpress, Lourença Tavares explicou que a obra nasceu da necessidade de processar o impacto emocional sentido ao acompanhar os conflitos recentes, como as guerras no Hamas e na Ucrânia, que trouxeram à tona as vivências de medo, inocência e resistência vividas em Luanda.
Nascida e criada em Angola, a autora recordou o momento da fuga da sua família para Cabo Verde, onde foram acolhidos no Liceu Domingos Ramos em 18 de Agosto de 1974.
“O lançamento do livro é lá porque fomos acolhidos enquanto refugiados. Foi a minha primeira casa, portanto é um reconhecimento enorme”, afirmou Lourença Tavares, asseverando que “Os escombros da vida” revisita os cinco meses de conflito que precederam a sua chegada ao arquipélago.
Ao longo das 52 páginas, a autora partilha reflexões profundas sobre o que viu e viveu, descrevendo a obra como um gesto de solidariedade e encorajamento, não só para as vítimas da guerra, mas também para todos aqueles que enfrentam mudanças e desafios ao longo da vida.
Para Lourença Tavares, reviver as memórias foi também uma forma de libertação e reconhecimento do passado.
“Eu me lembro do dia em que saíram a pegar jovens para serem levados para a guerra. Foram a nossa casa, eu agarrei o meu irmão aos gritos e penso que os meus gritos é que impediram, saíram e foram-se embora”, relatou, acrescentando que observou a angústia de outras crianças porque o pai estava sendo levado para a guerra.
Para a escritora, ‘Os escombros da vida’ é também uma reflexão sobre a empatia e a necessidade de se colocar-se no lugar do outro, visto que cada um vive o mundo como uma missão”.
“Procuramos ser úteis e não importantes, porque nós partimos, nós vamos. Fica a lembrança, ficam as recordações”, reflectiu, acreditando que transformar a dor em palavra é uma forma de cura.
A Guerra Colonial em Angola (1961-1974) foi um período de extrema violência, culminando no massacre que é considerado o estopim da Luta Armada de Libertação Nacional angolana.
LT/CP
Inforpress/Fim
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