
Cidade da Praia, 05 Nov (Inforpress) – Os jornalistas dos órgãos de comunicação social exigiram hoje a responsabilização do conselho de administração da RTC, alertaram para a “grave ameaça à liberdade de imprensa e à democracia” e ameaçaram com greve pela autonomia editorial da TCV.
Esta posição foi assumida à imprensa após a vigília realizada em frente às instalações da Rádio e Televisão de Cabo Verde (RTC), em solidariedade com a directora, Bernardina Ferreira, que cumpre uma pena de 45 dias de suspensão sem vencimento.
Segundo os jornalistas, a suspensão da directora foi uma retaliação por defender a autonomia editorial da TCV, após a Agência Reguladora da Comunicação Social (ARC) reconhecer ingerência do conselho de administração da RTC e aplicar uma coima de 350 mil escudos à RTC.
A porta-voz da TCV, Rosana Almeida, afirmou que a liberdade de imprensa está em risco e que o episódio representa “uma ameaça à própria democracia cabo-verdiana”.
“Na história da comunicação social em Cabo Verde, a liberdade de imprensa é uma conquista inegociável. Não podemos aceitar interferências nos conteúdos, porque isso periga a democracia. Nunca tivemos um caso de ingerência deste tipo”, disse Almeida, questionando ainda “de que lado está o conselho de administração: dos trabalhadores ou da perseguição aos profissionais”?
Já o porta-voz da RCV, Carlos Santos, disse que o CA ultrapassou todas as linhas vermelhas, atingindo “o coração da democracia”.
“Não se trata de um problema laboral. É uma questão de liberdade de imprensa e autonomia editorial. Este conselho já não tem a confiança dos trabalhadores. A luta está apenas a começar e vamos manter a mobilização até que a tutela tome posição”, afirmou Santos.
Ele recordou ainda episódios recentes em que o CA da RTC impediu a emissão de programas e mandou retirar notas de solidariedade publicadas nas redes sociais em defesa de jornalistas alvo de ataques.
“Quem devia estar sob sanção não é a directora, mas este Conselho da Administração que insiste em violar a lei e a autonomia da televisão pública”, acrescentou.
A vice-presidente da AJOC, Gisela Coelho, reforçou que o caso não é apenas interno, mas uma questão nacional.
“Ao longo do ano, jornalistas em Cabo Verde têm sofrido ataques e ingerências crescentes. Este episódio é o culminar de um processo preocupante. A lei é clara, e a ARC já deu razão à direção da TCV. Ao perigar a liberdade de imprensa, periga-se também a democracia”, disse.
Gisela Coelho adiantou ainda que a Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) manifestou apoio aos trabalhadores, repudiando a actuação do CA e exigindo a anulação da sanção aplicada à diretora da TCV.
Os jornalistas prometeram continuar a mobilização até que o accionista, Estado, se pronunciar sobre a situação, alertando que a liberdade de imprensa e a autonomia editorial são pilares da democracia em Cabo Verde.
O episódio, segundo os trabalhadores, estabelece “um grave precedente” na história da comunicação social pública, evidenciando a necessidade de protecção institucional para os jornalistas e para os conteúdos editoriais.
No fim, os profissionais reforçaram que, se não houver respostas concretas das autoridades competentes, a greve será inevitável, sublinhando que a luta pela liberdade de imprensa e pela protecção dos jornalistas continuará em todas as frentes.
KA/SR/JMV
Inforpress/Fim
Partilhar