Estudo revela que 83% dos finalistas do secundário em Cabo Verde preferem estudar em Portugal

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Estudo revela que 83% dos finalistas do secundário em Cabo Verde preferem estudar em Portugal
29/09/25 - 12:53 pm

Cidade da Praia, 29 Set (Inforpress) - Um estudo com mais de nove mil finalistas do ensino secundário no país revelou que 95 por cento (%) querem ingressar na universidade, mas 83% preferem Portugal e apenas 18% Cabo Verde, confirmando a força da emigração estudantil.

O levantamento, apresentado hoje na Conferência “Futuro Superior: Decisão, transição e desafios dos alunos cabo-verdianos no ensino superior em Portugal”, na cidade da Praia, abrangeu 9.152 alunos dos anos lectivos 2022/23 e 2023/24.

De acordo com as informações avançadas pelo doutorado em Economia pela Nova School of Business and Economics (Nova SBE) e especialista em Economia da Educação, Pedro Freitas, entre as áreas de estudo mais procuradas destacam-se Direito (um em cada cinco alunos), seguido por Engenharia e Saúde.

Apesar da motivação em continuar a estudar, o estudo identifica um desalinhamento entre expectativas e realidade. Enquanto os jovens acreditam que cerca de metade dos cabo-verdianos concluem os cursos em Portugal, os registos oficiais mostram que apenas 36% conseguem graduar-se sete anos após o ingresso.

Outro ponto sublinhado por Pedro Freitas prende-se com o acesso limitado às bolsas de estudo: os alunos estimam que 40% beneficiem deste apoio, mas a realidade é “muito inferior”.

Quanto às perspectivas laborais, os finalistas do secundário revelam pouco otimismo em relação a Cabo Verde: acreditam que apenas quatro em cada 10 licenciados no país encontram emprego, contra seis em cada 10 dos que se formam em Portugal.

Curiosamente, regressar a Cabo Verde depois de estudar no estrangeiro melhora ligeiramente a perceção de empregabilidade, subindo para cinco em cada 10.

O investigador destacou ainda que os dados reflectem um forte desejo transversal de formação, independentemente do género ou da escolaridade dos pais. Contudo, a realidade da emigração familiar tem peso: um em cada quatro alunos tem a mãe ausente e 24% têm irmãos a viver em Portugal, o que reforça as redes migratórias.

“O que estes resultados mostram é, por um lado, uma enorme vontade de qualificação dos jovens cabo-verdianos, mas, por outro, uma forte intenção de migração, motivada pela percepção de melhores oportunidades de estudo e de emprego no exterior”, frisou Pedro Freitas.

Por seu turno, a professora Katia Batista, da Universidade Nova de Lisboa e directora do Centro Nova África, destacou que muitos jovens cabo-verdianos têm fortes aspirações de estudar em Portugal após o ensino secundário, mas frequentemente carecem de informação detalhada sobre cursos, instituições, despesas e apoios disponíveis.

Para colmatar essa lacuna, Katia apresentou um programa de informação que orienta os estudantes sobre o que irão aprender em Portugal, os diferentes cursos e instituições, bem como os aspectos do dia a dia, incluindo apoio financeiro e despesas.

O objectivo é permitir que os jovens tomem decisões mais conscientes e estejam melhor preparados para o sucesso académico.

Katia Batista destacou a coordenação com o Ministério e a Direcção-Geral da Educação, garantindo que os estudantes tenham acesso a todas as informações e materiais necessários antes de se deslocarem para estudar fora.

O director-geral do Ensino Superior, Romualdo Pereira, também presente na conferência, reconheceu os desafios identificados pelo estudo, mas destacou que o Governo está a implementar uma reforma educativa de fundo, com foco em Ciências, Tecnologias e Línguas, acompanhada de investimentos em laboratórios, capacitação de professores e novas infraestruturas.

“Sabemos que há dificuldades dos alunos acompanharem o sistema de ensino em Portugal, e foi por isso que iniciámos esta reforma, desde o ensino básico até ao secundário, para melhorar o perfil de saída dos estudantes”, afirmou.

Romualdo Pereira afirmou ainda que o financiamento do ensino superior é um desafio, mas que o Governo implementou novos mecanismos, incluindo um modelo de reembolso, para garantir acesso a todos e premiar o mérito académico.

TC/CP

Inforpress/Fim

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