São Filipe, 06 Nov (Inforpress) – Os familiares de Ilídio Monteiro, que faleceu na noite de 02 de Novembro na ala psiquiátrica do Hospital Regional São Francisco de Assis, questionaram hoje a causa da morte e apontaram possíveis falhas de atendimento.
Em declarações à Inforpress, nome da família, Ana Monteiro, irmã da vítima, expressou a sua indignação e questionou as circunstâncias que levaram ao óbito de Ilídio Monteiro, de 36 anos, e disse não acreditar na versão apresentada pelo director clínico do São Francisco de Assis.
Segundo Ana Monteiro, há dúvidas sobre o atendimento médico e sobre a versão apresentada pelo hospital, que aponta que o falecimento teria sido causado por um engasgo ao ser alimentado por outro irmão que possui problemas de saúde mental e que provocou bronco aspiração.
A vítima foi levada ao hospital pela primeira vez no dia 28 de Outubro, pela mãe, por apresentar febre e pressão arterial elevada e na ocasião foi medicado e liberado, mas no dia seguinte, voltou ao hospital, ainda febril e com fortes dores de cabeça, e foi atendido por outra médica, que lhe administrou uma injecção e, novamente, o liberou, disse a irmã.
Segundo a mesma, na quarta-feira, 30 de Outubro, o irmão retornou ao hospital, em estado delirante devido à febre e foi encaminhado directamente para a ala psiquiátrica, sem passar por exames que pudessem identificar possíveis causas para os sintomas apresentados.
Ana Monteiro avançou ainda que no dia 02 de Novembro, véspera da ocorrência do óbito, a mãe de Ilídio foi visitá-lo e o encontrou em estado crítico, deitado no chão e sem roupas, com espuma na boca, tendo a mesma solicitado ajuda ao enfermeiro para dar-lhe banho e colocá-lo na cama, e manifestou o seu descontentamento porque “não havia equipa disponível para acompanhá-lo de perto” e no dia 03 de Novembro a família foi informada da morte.
A versão médica que aponta como causa da morte bronco aspiração (engasgo) provocado pelo outro irmão que está hospitalizado na mesma ala, ao alimentá-lo não convence a família, que questiona essa explicação já que não havia enfermeiros ou médicos no momento da ocorrência, por volta das 19 horas, e que o atendimento só chegou após as 21 horas, no momento de troca de turno.
A irmã apontou que a falta de acompanhamento contínuo e a ausência de medidas para controlar a febre persistente, que segundo a mesma, durou cinco dias, configuram sinais de negligência por parte do hospital e lamentou o facto de o irmão ter sido amarrado à cama (as duas mãos), mesmo sem apresentar comportamento agressivo.
“É inconcebível que uma pessoa com febre e delírio seja encaminhada directamente para a ala psiquiátrica sem passar por exames para avaliar a sua condição”, afirmou a irmã que sublinhou que os familiares pedem esclarecimentos à direcção do hospital sobre as verdadeiras causas através de um relatório detalhado desde o primeiro dia em que o irmão procurou o estabelecimento hospitalar.
Ana Monteiro disse que até este momento a direcção do Hospital Regional São Francisco de Assis não entrou em contacto com a família para oferecer explicações formais sobre o falecimento e sublinhou que chegou a solicitar informações sobre os procedimentos efectuados junto do enfermeiro, mas que este remeteu-lhe para o pessoal médico.
A mesma fonte criticou a ausência de condições adequadas para o atendimento a pacientes em situação de crise, mencionando a necessidade de haver equipas de saúde mental 24 horas, algo que já é oferecido em outras localidades, como Trindade.
A irmã disse que o irmão a quem se pretende culpabilizar pela morte de Ilídio, padece de problemas mentais há 20 anos, mas que tem momento de lucidez porque não perdeu a memória na sua totalidade e não é uma pessoa agressiva.
“Ele ainda tentou procurar apoio de enfermeiros, mas a porta de corredor da ala psiquiátrica estava trancada na noite do dia 03 de Novembro” disse a mesma fonte que sublinhou que antes desta trágica situação o irmão costumava alimentar Ilídio e por isso a família não acredita apenas nesta versão.
A família de Ilídio Monteiro, que vai a enterrar na quinta-feira, 07 de Novembro, exige um relatório completo que explique os procedimentos realizados durante os dias em que ele esteve sob cuidados do hospital e apelam por melhorias no sistema de saúde mental na ilha do Fogo, que, segundo eles, não oferece o suporte necessário aos familiares de pacientes com problemas psiquiátricos.
JR/HF
Inforpress/Fim
Partilhar