Analista compara crise no Senegal e Guiné-Bissau a “plano para confiscar democracia”  

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Analista compara crise no Senegal e Guiné-Bissau a “plano para confiscar democracia”  
06/02/24 - 07:53 am

Bissau, 06 Fev (Inforpress) – O presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos, Bubacar Turé, considerou hoje que o que se passa no Senegal e na Guiné-Bissau parece um plano entre os presidentes dos dois países para “confiscar a democracia”.

O activista e analista político guineense comentava à Lusa os recentes acontecimentos no vizinho Senegal, com a decisão do presidente Macky Sall de adiar as eleições presidenciais de 25 de Fevereiro e os protestos que têm ocorrido no país.

Como destacou Bubacar Turé, o Senegal é uma referência de uma democracia consolidada, sobretudo para a sub-região da África Ocidental, e “é dos poucos países na CEDEAO [Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental] que não experimentou um golpe de Estado”.

“Infelizmente com o regime vigente no Senegal, o regime do Macky Sall, temos assistido a um recuo dos indicadores democráticos”, afirmou, apontando “ataques contra liberdades fundamentais, perseguições a jornalistas e vozes discordantes, detenções arbitrárias”.

Segundo Turé, “neste momento, o Senegal tem mais de 1.500 pessoas detidas, entre as quais ativistas dos direitos humanos, jornalistas, dirigentes de partidos políticos”.

Notou ainda que o Senegal é um dos poucos países onde o regime atual ordenou a dissolução de um partido político e consequente demissão do seu presidente.

Para o analista, estas “são questões que demonstram a degradação da situação naquele país vizinho, a degradação dos indicadores democráticos e o recuo da democracia e Estado de Direito”.

A situação é considerada “preocupante” e com “reflexos diretos na Guiné-Bissau”, na medida em que o Presidente do Senegal “tem nos seus melhores amigos o Presidente da República da Guiné-Bissau”, disse.

“Tudo aquilo que o Machy Sall faz é tido como uma referência, um exemplo a multiplicar ou a copiar na Guiné-Bissau, é o que o senhor presidente Umaro Sissoco Embaló tem, até certo ponto, feito”, declarou.

O activista insistiu que o Presidente guineense “considera o Presidente Machy Sall como seu ´pai político` e, portanto, não hesita copiar esses maus exemplos para a Guiné-Bissau”.

Neste caso, continuou, “parece que há um pacto entre os dois presidentes, porque aquilo que se tem passado no Senegal é a mesma coisa que está a acontecer na Guiné-Bissau, a repressão, violação de direitos humanos, tentativa de confinamento de liberdades fundamentais”.

“Nós até podemos dizer tentativa de um plano, deve até existir um plano entre eles para confiscar a democracia com a finalidade de se perpetuarem no poder. É o que está a acontecer no Senegal e na Guiné-Bissau”, acrescentou.

Nas perspetivas para o futuro, o analista referiu que “a grande diferença entre os dois países é que o Senegal tem uma cultura cívica enorme, tem uma experiência universitária enorme, tem uma elite muito forte, tem uma oposição muito forte, um povo muito lúcido e que tem feito uma oposição forte em relação aos planos ditatoriais do regime”.

Na Guiné-Bissau “não tem sido observado o mesmo exemplo do Senegal e por isso as perspetivas para o futuro são extremamente preocupantes”, sobretudo se vier a acontecer o primeiro golpe de Estado no Senegal, disse.

Bubacar Turé considerou que esse cenário mergulharia “não só o Senegal, mas também toda a sub-região [da África Ocidental], sobretudo os países vizinhos, numa situação de imprevisibilidade”, com consequências diretas na economia e o agravamento da situação económica e social, nomeadamente da Guiné-Bissau.

Para o ativista, politicamente, “na Guiné-Bissau a situação é muito mais confusa”, pelas “forças políticas em conflito permanente, associado ao aumento da criminalidade organizada, que tem sido denunciada pelos próprios atores políticos”.

Bubacar Turé entende que “o futuro é muito preocupante e é imprevisível”.

“Tudo pode acontecer, não se sabe ao certo o que poderá acontecer em concreto, mas os dias melhores realmente não se perspetivam nas atuais circunstâncias”, afirmou.

Inforpress/Lusa

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