REPORTAGEM/São Vicente: Centro Irmãos Unidos neste momento com apenas quatro internos e alguns antigos nas ruas

*** Por Letícia Neves, da Agência Inforpress ***

Mindelo, 05 Jun (Inforpress) – O Centro Irmãos Unidos, em Chã de Alecrim, neste momento está a funcionar com apenas quatro internos quando a intenção era ter 20 e alguns das antigas crianças e adolescentes estão de novo nas ruas.

A instituição pertencente à Cáritas, mas actualmente sob a gerência da Câmara Municipal de São Vicente, já existe há cerca de 45 anos, em Chã de Alecrim, zona a norte do Mindelo. Foi reinaugurada a 18 de Janeiro de 2019 para acolher 12 crianças e adolescentes e com o objectivo, segundo os promotores, de ajudar no fenómeno de crianças nas ruas do Mindelo, com tendência de aumento.

A 31 de Julho de 2021 inaugurou-se novos dormitórios, construídos com capacidade para albergar 20 crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade.

Entretanto, agora em 2023, a realidade é bem diferente do prognosticado e somente quatro adolescentes e jovens, todos do sexo masculino, com idade compreendida entre os 16 e 22 anos, residem na instituição, que acolhe os internos em regime semi-fechado.

Pior ainda, como a própria reportagem da Inforpress pôde constatar, é que alguns dos internos, até com menos idade dos actuais residentes, já voltaram às ruas e estão a ser vistos a pedir dinheiro e comida à porta de bares, mini-mercados e outros estabelecimentos comerciais do Mindelo.

A Agência de Notícias de Cabo Verde contactou a directora dos Serviços Sociais da Câmara Municipal de São Vicente, que não quis pronunciar-se sobre o assunto e remeteu a jornalista à vereadora do Pelouro da Infância, Celeste da Paz, que, por sua vez, encaminhou a questão para o coordenador do centro, Bruno Fortes.

Confrontado com a situação de redução do número de internos, o actual responsável assegurou que não tem muita informação, porque quando assumiu o cargo, há um mês, só encontrou sete adolescentes e jovens, daí, acredita, que as explicações devem ser dadas pelo anterior coordenador.

Bruno Fortes, que só quis falar dos sete colocados sob sua responsabilidade, explicou que três destes foram reintroduzidos nas famílias por já não terem idade para estarem no centro, e também por apresentarem “comportamentos desviantes”.

“Esses três jovens, quando entrei, já tinham entre 21 e 22 anos, e então foi feito um trabalho de base para se juntarem à família e os reenquadrar e também lhes foi dado uma formação em carpintaria naval como possibilidade de ter uma profissão e futuramente ganharem a vida”, explicou Bruno Fortes, adiantando como prova de “sucesso” desta medida é que um destes jovens está neste momento em estágio e a fazer trabalhos de construção de botes.

Contudo, mais um jovem de 22 anos continua na instituição, mas, nesse caso, a permissão ainda está a ser dada, conforme a mesma fonte, por este sofrer de “problemas de esquizofrenia”.

O responsável garantiu que os quatro internos estão a receber um tratamento baseado “não em quantidade, mas em qualidade” e estão a responder, tanto assim é, que dois deles frequentam a escola, um destes, ao mesmo tempo, uma formação de carpintaria naval, e ainda um interno, com destreza com animais, colabora, em regime de voluntariado, com um adestrador de cães.

Por outro lado, Bruno Fortes afirmou estar em curso um processo de sinalização de novas crianças e adolescentes para serem acolhidos, com a idade de  “no mínimo 12 anos” e com quem pretendem fazer um “trabalho de fundo” para a reinserção sócio-familiar.

Questionado sobre o prazo para que tal aconteça, a mesma fonte considerou ainda ser cedo para o adiantar por ser um processo “um pouco complicado” envolvendo as famílias e o menor.

“Não é algo que dependa só do centro e deve ser feito com muita cautela e muito bem preparado para ter os melhores resultados”, advogou, com a ideia de um trabalho a ser feito com as crianças/adolescentes tendo como objectivo último o reenquadramento na família, na escola, no grupo de pares e na comunidade, quatro pilares colocados como “essenciais” para a evolução dos internos.

Bruno Fortes garantiu que neste momento estão na fase de observação de algumas crianças em situação de rua, no Mindelo, e do modo como estão trajados e se comportem, para depois seguirem para a fase de aproximação e ganho de confiança e por fim contactarem as famílias.

Ademais, assumiu estar o Centro Irmãos Unidos munido de “todas as condições” para receber mais meninos e pronto para os orientar para o “melhor caminho”, através da equipa de sete profissionais, um coordenador, três monitores, um assistente administrativo, uma empregada de limpeza e serviços gerais e uma cozinheira.

O Centro Irmãos Unidos, criado em 1977, foi uma iniciativa de António da Graça, também conhecido por Sr. Toi, antena da Cáritas São Vicente que trabalhou com os primeiros jovens na faixa etária entre 15 e 25 anos. A partir de 1991, passou a ser gerido directamente pelo Secretariado da Cáritas.

Em 2019 sofreu uma transformação para centro semi-fechado com a parceria da câmara municipal, responsável pelas despesas de funcionamento, na altura orçadas em três mil contos anuais, juntamente com outras entidades que formam o núcleo criado para eliminar as crianças das ruas de São Vicente.

LN/CP

Inforpress/Fim

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