São Vicente/PERFIL: Aníbal Delgado tornou-se nadador-salvador para pagar uma “dívida” e hoje sente orgulho da sua profissão (c/áudio)

*** Por Letícia Neves, da Agência Inforpress***
Mindelo, 19 Set  (Inforpress) – O nadador-salvador Aníbal Delgado está na profissão há 16 anos, depois de ter decidido recompensar a “divida” de, quando adolescente, ter sido resgatado do mar, e agora não se vê a fazer outra coisa na vida.

Com as temperaturas altas, estudantes em férias e muita gente na praia, trabalho e muita concentração foi o que não faltou neste Verão a Aníbal Delgado, nadador-salvador, que há 16 anos trabalha na Praia da Laginha, estância balnear mais urbana do Mindelo.

Decidiu seguir esse ofício de “herói do mar”, em 2022, quando ainda prestava o serviço militar e participou de uma formação ministrada por um grupo de instrutores portugueses, na Cidade da Praia.

Entretanto, o desejo de salvar vidas vem ainda da adolescência, quando, aos 13 anos, foi uma “vítima” do mar ao ser arrastado pela correnteza na Praia Grande, em São Vicente, e, felizmente, acabou resgatado por uma salva-vidas.

“Eu fui levado pela corrente, mas, o senhor Rui foi me resgatar, e desde então pensava que teria de fazer algo do tipo para ajudar as pessoas”, recordou Aníbal Delgado, adiantando que a primeira opção era ser um elemento da Protecção Civil, algo que descartou devido a falta de habilitações.

Mas, hoje, com 43 anos, dá “graças a deus” por ter aproveitado a “paixão” que sente desde pequeno pelo mar, e de ter seguido a profissão e integrar o “grupo pioneiro” de nadadores-salvadores do País, criado em São Vicente.

“Mesmo com todos estes anos de experiência, eu sempre respeito o mar, porque se há disciplina na terra, no mar é redobrada”, lançou.

Ciente das responsabilidades e das provas diárias, sente-se também “orgulhoso” da sua escolha, muito por causa das vidas “sem conta” resgatadas em todos esses anos, tanto na Laginha, onde trabalha nos dias úteis e sábado e na Praia Grande, aos domingos, local que quase foi o seu algoz.

“É um trabalho de louvar, porque nos expomos, pomos a nossa vida em risco para salvar uma outra vida, isto quando sabemos que uma vida não tem preço”, considerou, referindo-se à “dedicação, muito amor e disciplina” cultivados no seu dia-a-dia.

Entretanto, embora o seu “escritório” diário, em uma praia, possa causar inveja há muita gente, Delgado vai

avisando que “não é um trabalho fácil”, também pelas “intemperes” a que estão sujeitos, sol, mar, vento e o envelhecimento precoce.

Esses “contras”, que diz serem recompensados pelo reconhecimento das pessoas, ainda mais quando fazem um salvamento com resultado positivo.

Mesmo assim, Aníbal Delgado acredita que muitos dos acidentes no mar poderiam ser evitados “se não fosse a ignorância e estupidez de muita gente, que prefere não ouvir os conselhos dos salva-vidas”.

E, por isso, mesmo com o risco de não ser mais uma vez ouvido, reforça o pedido para as famílias colocarem as crianças desde cedo em aulas de natação e permitirem “mudar o sistema” de vidas perdidas no mar de Cabo Verde.

Quanto ao lado profissional e das entidades responsáveis, Câmara Municipal de São Vicente e Instituto Marítimo e Portuário (IMP) faz uma avaliação positiva da evolução, dos anos anteriores, até agora, em que já têm “melhores equipamentos” e “melhor apoio”.

Contudo, uma das lacunas apontadas pelo nadador-salvador é a falta de policiamento regular, ainda mais no auge do Verão. Um reforço que, sublinhou, serviria para a segurança deles próprios, porque, por trabalharem em turnos de dupla, que se apoia nas situações de emergência, deixam a torre de controlo sem ninguém e sujeita aos furtos dos seus pertences, o que, como diz, acontece sempre.

Por outro lado, para pararem de assumir o “papel de polícia”, por serem os primeiros a serem accionados pelos banhistas, que sofrem furtos e roubos na areia.

Mas, com ou sem policiamento, o certo é que Aníbal Delgado pretende continuar, com o auxílio das boias, pranchas, e cintos de salvamento, ou sob águas calmas ou bravas da Laginha, a cuidar das dezenas de vidas que tem sob sua responsabilidade, todos os dias.

LN/JMV
Inforpress/Fim

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