* * *Por Américo Antunes, da Agência Inforpress * * *
Mindelo, 20 Nov (Inforpress) – Quem chegar à zona da Ribeira de Vinhas e deparar-se com uma vasta área murada e um portão cinzento não fará ideia do verde e da tecnologia por detrás do muro, onde pontifica uma diversidade de estufas.
Trata-se da empresa Agro Soluções, do engenheiro agrónomo Adilson Melício, que emprega 23 pessoas, das quais sete jovens mulheres, e que aposta, como faz questão de realçar, numa agricultura que usa tecnologia, preserva o meio ambiente e não deixa ninguém para trás.
Recentemente, introduziu na propriedade uma nova geração de estufas, “plastificadas, com tectos retráteis e ventiladores”, as quais vão oferecer condições de produção “muito melhores”.
Nesta área de cultivo protegido (estufas), contou a mesma fonte, dos três mil metros quadrados, em 2022, a empresa passou para oito mil metros quadrados em processo de finalização, actualmente, e com a projecção de mais mil metros quadros em meados de 2024.
“Ou seja, em pouco mais de um ano triplicamos a nossa capacidade de produção em estufas, três das da nova geração vão entrar agora em produção, e contamos em Janeiro/Fevereiro de 2024 iniciar a colheita nas novas estufas”, concretizou o engenheiro/agricultor.
Um outro diferencial do trabalho que se faz na “Agro Soluções”, contou o proprietário, é o uso da água dessalinizada de poços e furos.
Em 2017, conforme a mesma fonte, a empresa iniciou com um dessalinizador de 2,5 toneladas em que, em 24 horas, tinha disponível cerca de 50 toneladas de água.
Depois, no âmbito de um projecto de parceria com a Embaixada dos EUA, em Fevereiro de 2022, adquiriu outro dessalinizador de oito metros cúbicos/hora e neste momento a capacidade de produção/dia é de 240 toneladas de água.
“Como instalamos um parque fotovoltaico de 50 kilowatts de potência dessalinizamos apenas durante a luz do dia, ou seja, das 07:00 às 18:00”, pontuou.
O investimento já tem “resultados visíveis”, como a instalação de uma área de cerca de seis mil metros quadrados de papaia, plantadas no mês de Março e já com colheita, e uma outra de cerca de oito mil metros quadrados de banana, instalada em Setembro do ano passado e já com colheita iniciada.
“Tanto as áreas de papaia com a de banana serão duplicadas em breve, pois já temos em viveiro plantas vindas das Ilhas Canárias”, declarou Melício, que tem ainda em fase de finalização o centro pós-colheita, um espaço para triagem, lavagem, secagem e embalagem de produtos.
“Ou seja, os investimentos que tínhamos previsto em Fevereiro de 2022 já se encontram praticamente consolidados e no final do ano estará plenamente concluído”, enfatizou.
Tudo isto, informou, não é alheio a uma busca constante por inovações “por este mundo fora”, pois a Agro Soluções aposta num “trabalho com ciência”, a começar pelas sementes, que são profissionais.
“Há poucos dias fomos a Lisboa por uma semana, com uma mochila às costas, para arranjar sementes provenientes de Espanha ou Países Baixos”, informou, por estar a trabalhar com uma variedade de tomate, em que mil sementes, num pacote tipo telemóvel, custam 41 mil escudos.
“A este nível temos que utilizar sementes profissionais, neste caso do tomate a sua produção, desde que for bem tratado, a produção é de longe superior, por metro quadrado, a uma semente de horticultura ou semiprofissional”, concretizou.
Actualmente, a empresa já coloca no mercado papaia, banana, pepino, melão, melancia e tomate, esta última na primeira semana de Dezembro, contudo Adilson Melício vê algumas disfuncionalidades no mercado, que “oscila muito”.
E dá um exemplo: “Há dias que vendemos aqui, por exemplo, um quilograma de pepino por 120$00/130$00, quando vais ao supermercado encontras este mesmo produto a 260$00/280$00 ou mais, no final do ano passado vendemos um quilograma de tomate por 200$00 aqui e no mercado passou imediatamente para 450$00/500$00”.
Este é um aspecto que desagrada o produtor, “dói muito”, porque, conforme disse, prefere produzir mais com uma margem de lucro menor.
Isto porque, continuou, “se tens uma escala maior e venderes caro a pessoa que vai comprar no supermercado em vez de um quilograma compra meio quilograma”, mas se o consumidor final comprar a “um preço justo teremos a capacidade aqui de produzir mais porque já temos um mercado”.
Este, finalizou, é um aspecto que necessita de regulação, mas o mesmo disse acreditar que a entrada de mais produtores no mercado pode mexer com o preço final no consumidor.
AA/ZS
Inforpress/Fim