São Vicente: CCB repudia “qualquer tentativa de se instrumentalizar” o Carnaval com taxas aos empresários 

Mindelo, 15 Fev (Inforpress) – O presidente da Câmara de Comércio do Barlavento (CCB) disse hoje ser “contra qualquer tentativa de se instrumentalizar” o Carnaval do Mindelo e aplicar taxas aos empresários como forma de se financiar o evento.

Jorge Maurício reagia à Inforpress na sequência das declarações na terça-feira, 14, do ministro da Cultura e das Indústrias Criativas, Abraão Vicente, segundo as quais há procurar formas de “taxar” quem ganha mais com o Carnaval, que, no seu entender, são os hotéis, a restauração e os negócios.

Conforme o presidente da CCB, a agremiação empresarial não é defensora deste tipo de ideologia fiscal, que, considerou, “não é mais do que um imposto encapuçado de taxa”, quando a classe empresarial “não suporta mais taxas em Cabo Verde”.

A mesma fonte referiu-se à inflação registada actualmente no País, que tem feito, assegurou, com que a maioria do aumento dos preços esteja a ser impactado pelos empresários.

“Devemos pensar bem, mas, neste caso, será melhor deixar o mercado funcionar e as empresas contribuírem livremente, dentro das suas possibilidades”, sublinhou Jorge Maurício, exemplificando com o acordo recentemente assinado entre a CCB e a Liga Independente dos Grupos Oficiais do Carnaval – São Vicente (LIGOC-SV), por forma a incentivar as empresas a darem o seu patrocínio.

Desta forma, ajuntou, a agremiação repudia qualquer tentativa de se instrumentalizar o Carnaval e acredita ser necessário “repensar o papel interventivo” do Estado nesta festa popular.

“O Estado deve ser um elemento quase invisível e sem qualquer protagonismo no Carnaval”, advogou Jorge Maurício, para quem a intervenção do Estado pode gerar “efeitos perversos” como de a taxa, se criada, ser passada para os hóspedes, no caso dos hotéis, ou ainda de se exigir tributação também para outras festas, como as de romaria e festivais.

Pior ainda, conforme a mesma fonte, é as empresas deixarem de patrocinar por já pagarem uma taxa obrigatória.

“Esta ideia mais parece uma cobiça fiscal. Há que ter mais criatividade e evitar a lei do mais fácil e do directo que não é bom para ninguém”, declarou Maurício, conjecturando a hipótese de o Carnaval do Mindelo ser “ensombrado” por ideologias fiscais desse tipo.

Jorge Maurício não nega que o evento esteja a se tornar “mais atractivo e lucrativo”, mas, defendeu, há necessidade de este encontrar mecanismos para se financiar sozinho, por exemplo com “melhor organização, mais planeamento, evitar desperdícios e trabalhar o ano inteiro na angariação de fundos”, enfim, acrescentou, numa lógica de ser “livre, autónomo e sustentável”.

Questionado se o acordo entre a LIGOC-SV e a CCB está a ter efeitos práticos, o responsável asseverou que sim e informou estarem empresas a darem o contributo directamente aos grupos, à Liga e também a própria câmara, porque “todos querem um bom produto e que gere rendimento”.

Por outro lado, Jorge Maurício também não entende que a industrialização do Carnaval mindelense esteja a tirar a espontaneidade da festa considerada popular, a seu ver há espaço para um evento organizado e profissional, que, “é muito bom e só assim permite crescer”, e ao mesmo tempo sempre haverá um carnaval de rua como os mandingas.

Instado ainda a comentar os preços aventados para lugares nas bancadas alvo de muitas críticas por serem “muito exagerados”, a mesma fonte considerou que em Cabo Verde reclama-se de tudo, quando no caso das bancadas o público está “somente a contribuir, porque a quantia paga quase que nem dá para pagar os custos da montagem”.

Com ou sem polémica, o desfile dos grupos oficias de São Vicente deve acontecer na terça-feira, 21, e pela primeira vez no período noturno, com o começo marcado para as 18:30.

Para os prémios concorrem os grupos Flores do Mindelo, Estrelas do Mar, Cruzeiros do Norte e Monte Sossego e, segundo o presidente da LIGOC-SV, Marco Bento, já está garantida a transmissão televisiva directa através dos canais TCV e TVA.

LN/AA

Inforpress/Fim

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