Santo Antão: Proprietários agrícolas exigem melhor gestão da água de rega em Fajã Domingas Benta

Ribeira Grande, 18 Mai (Inforpress) – Vários proprietários de terrenos agrícolas de Fajã Domingas Benta, vale da Ribeira da Torre, exigiram hoje “melhor gestão” da água de rega gota a gota, pois dizem-se “prejudicados” com a distribuição que é “mal dividida”.

Em declarações à imprensa, a responsável e proprietária de alguns terrenos naquela localidade Gilda Santos explicou que Fajã Domingas Benta “necessita urgentemente” de um novo plano de rega.

É que, segundo a mesma fonte, nos últimos tempos foi implantado o sistema de rega de gota a gota e nem todos estão a conseguir regar as suas propriedades neste sistema, tendo em conta que alguns não estão contemplados no calendário de rega.

“Antes em Fajã Domingas Benta a rega era feito no sistema de alagamento, mas depois esse modelo foi extinto e implantaram gota a gota. O problema é que com este novo sistema alguns proprietários conseguem regar dois há três vezes por semana e quem fez instalação recentemente não está a conseguir entrar no calendário de rega” salientou.

Gilda Santos afirmou que no ano passado, no mês de Abril, fez um investimento nas suas propriedades e mudou para o sistema gota a gota.

Entretanto, conforme prosseguiu a mesma fonte, tal investimento não está a ter o “retorno”, porque não conseguiu entrar no calendário e “consequentemente” perdeu as suas plantações devido à falta de água.

“Já contactamos a responsável da ANAS, a comissão de água e também o delegado do Ministério da Agricultura e nada conseguem fazer, e nós ficamos com as plantações a secarem sem conseguir regá-las”, concretizou.

E, neste sentido, Gilda Santos lançou um repto a todos os envolvidos na questão para se reunirem tendo em vista um “novo calendário de rega”, como forma de todos terem direito a rega nas suas propriedades.

Por sua vez, o presidente da comissão de água da localidade de Marrador e Fajã Domingas Benta, Jorge Cruz, disse que quando tomou posse como presidente da comissão a mesma “não tinha um mirim d’água”, que são os “encarregados de distribuição de água´.

“Antes da minha posse havia um mirim d´ água, mas alguns proprietários não cumpriram com pagamento do mesmo e ele decidiu sair. Até propus pagar do meu bolso, mas ele negou também devido a certas ameaças que sofria” disse.

Quanto ao sistema de gota a gota que foi implementado nestas localidades, Jorge Cruz explicou que alguém “apoderou-se” da chave e não quer devolvê-la.

Entretanto, o mesmo garantiu que o problema “dentre em breve será resolvido”

Por seu aldo, o delegado do Ministério do Ambiente e Agricultura da Ribeira Grande, Orlando Jesus Delgado, confirmou que tem “conhecimento” desta situação, entretanto esclareceu que a gestão da água para rega “sempre foi feita pelos agricultores, através das comissões de água”.

“Agora estamos a ministrar uma formação para capacitar alguns membros das comissões de água e damos o nosso apoio quando necessário, por exemplo, podemos ajudar a criar as comissões e não só” frisou.

A Inforpress teve acesso a um email da delegação da Agência Nacional de Água e Saneamento (ANAS), em Porto Novo, enviado a proprietária Gilda Santos onde a mesma foi informada que a agência contactou o presidente da comissão da nascente da qual é beneficiaria e na conversa depararam com uma “serie de inconformidades” relativamente à gestão da aludida nascente que “carecem de resolução”.

“Na sequência, a referida comissão ficou com o compromisso de agendar uma reunião com todos os agricultores de Fajã Domingas Benta, da qual devem participar o delegado do Ministério da Agricultura e a delegação da ANAS, com o intuito de sanar definitivamente os problemas” lê-se na nota.

Em Novembro de 2020, o presidente do conselho de administração da empresa Água de Rega, Jaime Ferreira, afirmou, durante a apresentação do projecto de prevenção e gestão de conflitos no uso de água, que com a implementação do projecto os agricultores poderiam reunir e praticar uma “agricultura mais empresarial”, no sentido de colocarem os seus produtos em hotéis e em outras ilhas.

“Paulatinamente, vamos implementar a empresa, não é obrigatório as pessoas aderirem, aderem no momento em que acharem que têm benefícios e estamos aqui para ajudá-los porque a empresa foi criada visando o lucro e a satisfação dos agricultores”, explicou Jaime Ferreira.

A mesma fonte frisou que na apresentação do projecto, os agricultores mostraram “algum receio” em relação àquilo que eles têm adquirido.

Entretanto, Jaime Ferreira pontuou que foi “muito claro” quando lhes mostrou as vantagens que este projecto traz.

O representante disse ainda que a empresa terá uma representação, sem apontar onde ficará sediada, sendo certo, precisou, que a zona norte de Santo Antão ficará junto com as ilhas de São Vicente e São Nicolau.

O projecto é financiado pelo Governo de Cabo Verde, em parceria com o Governo da Hungria, e está orçado em 35 milhões de euros.

LFS/AA

Inforpress/Fim

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