Assomada, 17 Nov (Inforpress) – O ministro da Família, Inclusão e Desenvolvimento Social chamou hoje à atenção da sociedade sobre a necessidade de o homem se cuidar mais de si, mas também da sociedade cumprir também este papel.
Fernando Elísio Freire fez este apelo em declarações à imprensa, após uma actividade organizada pelo Instituto Cabo-verdiano para a Igualdade e Equidade de Género (ICIEG), na Universidade de Santiago, Assomada, como parte da celebração do Dia Internacional do Homem, assinalado a 19 de Novembro.
Este governante acentuou que é preciso cuidar mais do homem, sobretudo na tenra idade, para que possa crescer num ambiente saudável e firmar a sua personalidade e integridade humana numa forma mais saudável possível.
“Temos que focar numa verdadeira igualdade de género, que é uma verdadeira igualdade de oportunidades e está claro que na fase de criança e da adolescência temos que dar uma atenção muito especial aqui em Cabo Verde aos rapazes”, apontou, justificando que em várias situações negativas a nível social, desde o abandono escolar, criminalidade, toxicodependência, entre outros, é reflectido mais nos rapazes.
Daí defende esta necessidade de dar essa atenção, mas não se descuidando das meninas, para haver sempre igualdade de oportunidades.
Segundo a mesma fonte, ao chegar à fase adulta, é uma realidade que as mulheres têm um salário menor, menores oportunidades em alguns sectores e áreas e que há todo um estereótipo à volta da mulher que é preciso trabalhar e igualar as oportunidades.
“Toda a legislação que se tem no País e as medidas que estão a ser tomadas a nível do rendimento social de inclusão, do acesso à habitação, educação, electricidade, água, políticas na área de pessoas com deficiência, tem promovido sempre a igualdade do género”, acentuou, reforçando que é uma promoção na devida proporção de que em fases diferentes é preciso dar uma atenção especial a homens ou mulheres, de acordo com a realidade social em que vivem ao longo da vida.
Neste sentido realçou que o Dia Internacional do Homem, comemorado no dia 19, deve servir para esta reflexão.
Por outro lado, a presidente do ICIEG, Marisa Carvalho, defendeu que a questão do género tem que ser tratada e feito um diálogo entre os dois sexos, tendo a certeza de que os desafios diferem para ambos os géneros.
Pois, sustentou que os homens sempre tiveram “vez e voz” na sociedade, sempre ocuparam um espaço público, os provedores e muitas vezes dominadores em muitas áreas, mas que a reconstrução social tem alterado esses papéis sociais, onde a mulher deixou de ter somente o papel da cuidadora, e em muitos casos a única provedora dos seus agregados familiares.
Por não haver uma reconstrução desses papéis, sublinhou que isso causa alguns conflitos, porque, no fundo, o homem que deixa de ser o provedor não encontra o seu papel, muitas vezes manifesta-se de forma violenta.
Nesse sentido, defendeu a necessidade de se fazer abordagens distintas, não a exaltação de um sexo em detrimento do outro, mas realmente assumir que cada género tem os seus desafios específicos e temos que os abordar.
O reitor da universidade de Santiago, Gabriel Fernandes, proferiu uma aula magna durante esta actividade sobre a construção histórica do homem cabo-verdiano e a sua influência na formação de novas masculinidades.
Segundo este conferencista as novas formas de masculinidade são associadas a valores, novas formas de sociabilidades, entre outros, em que os homens contribuem para uma sociedade mais equilibrada, mais equitativa, mais justa e mais inclusiva.
Mas, sustentou que essa nova forma de masculinidades deve remeter à sociedade ao resgate daquilo que é a história do homem, a história da construção da identidade masculina.
“Quando se fala da violência masculina, da agressividade, masculinidade tóxica, são questões que se põem com muita acuidade”, disse, reforçando que não são generalizáveis, pois não recobrem todo o homem cabo-verdiano, todo o ambiente da vivência cultural dos cabo-verdianos.
Relembrou que o homem cabo-verdiano ao longo da história foi “um homem digno, trabalhador, resistente que sob o signo da escassez e sobre o espectro da fome trabalhou para garantir a sustentabilidade da sua família, para garantir as futuras gerações, aos seus filhos condições de existência, soube contrapor à dominação colonial formas concretas de resistência” e que é preciso colocar a vida desse homem e colocá-lo ao serviço da nova masculinidade.
E, para construir uma sociedade mais justa, considerou que é preciso desconstruir os grandes obstáculos a essa sociedade, corroborando ser necessário “atacar” tudo que colocava o homem como referência, provedor, sustentáculo de tudo, e que as medidas levadas a cabo no âmbito das reivindicações feministas visavam exatamente isso.
Ou seja, “tirar a mulher da situação de permanente inferioridade, colocá-la em pé de igualdade com o homem”, mas que isso devia ser feito levando-se em conta o próprio homem.
“Não podemos valorizar as mulheres e desvalorizar os homens, não se pode entrar numa lógica sectarista, onde de um lado está a mulher outro o homem”, disse, defendendo que é preciso tentar uma complementaridade que permite aproveitar o de positivo que existe nos constructos sociais e agregar as normas e decisões políticas os constructos positivos
MC/JMV
Inforpress/Fim