Sal: Empregadas domésticas consideram-se mais valorizadas mas queixam-se da situação de vulnerabilidade

Espargos, 23 Jan (Inforpress) – As empregadas domésticas, no Sal, consideram-se, nos dias de hoje, mais valorizadas pelos patrões, porém queixam-se da situação de vulnerabilidade em que se encontram, augurando um dia a publicação de leis que ampliam os seus direitos.

Contando com poucas alternativas no mercado de trabalho, já que carecem de qualificações formais, as empregadas domésticas constituem um dos grupos mais vulneráveis de trabalhadores em todo o mundo, e Cabo Verde não foge a regra.

Abordadas, a propósito, a maioria das moças e mulheres nesta categoria com quem Inforpress conversou dizem exercer esta profissão com “dignidade”, já que não têm habilitações para fazer outra coisa, porém “um trabalho digno” como qualquer outro.

“Cada um faz o que sabe e de acordo com a escola que tem. Nunca tive cabeça para os estudos, portanto não poderia ser doutora. Sou empregada doméstica há dez anos numa casa de família. Limpo, arrumo, faço o comer, com alegria, porque é o meu trabalho e o que sei fazer. E, sinto-me respeitada e valorizada”, exteriorizou Adelaide, que diz ter “sorte” por ter uma “boa patroa”.

Também Letícia Silva, habilitada com o 11º ano, disse trabalhar de babá cuidando de um menino de dois anos, porque não quis mais ir para a escola.

“Já não conseguia estudar. Cansei, não tinha resultados. Resolvi trabalhar e apareceu-me a oportunidade de cuidar deste menino. Gosto muito dele e ele é muito apegado a mim, o que deixa, acredito, os meus patrões tranquilos. Não tenho de me queixar. Aufiro o salário mínimo, e tenho cobertura em termos de segurança social”, contou, visivelmente entusiasmada.

Outra menina que, entretanto, preferiu não ser identificada, conta que a sua primeira experiência foi numa boutique, mas não gostou da “pasmaceira”, conforme disse, tendo tentado casa de família, porém, “pior a emenda do que o soneto”.

“Fiz trabalho forçado e pesado, jornadas extenuantes, tinha um mísero salário, alimentação limitada, enfim… uma experiência para esquecer, mas que me ajudou a crescer e a dar mais valor e sentido à vida”, desabafou, informando que actualmente trabalha num dos hotéis na cidade de Santa Maria.

“Parecendo que não, camareira é uma tarefa que cansa, mas sou recompensada pelo que faço. Tenho o meu salário, folga, previdência social. Vou levando a vida. Tenho 26 anos e não tenho filhos, portanto (…)”, declarou.     Amândia Duarte, de 30 anos, por seu lado, disse que gostaria de ser polícia, mas não teve estudos, porque em São Nicolau os pais tiraram-lhe da escola para trabalhar na agricultura.

Entretanto, outras tantas, resignadas com o trabalho de empregada doméstica, considerando tratar-se de uma categoria que sofre pela situação de vulnerabilidade, observam que “pouco adianta” o avanço da legislação, já que a maioria das mulheres que trabalha em casas de família não beneficia das normas mínimas, nomeadamente a providência social, férias, feriados, entre outros direitos.

“Se não nos beneficiarem, pelo menos no acesso à saúde, da providência social, não conseguiremos a reforma, quando na idade de aposentação. O Governo devia ponderar a publicação de leis que ampliam os direitos das empregadas domésticas para que possam sentir-se mais seguras”, lamenta Glória Mendes, Susana e outras colegas, em tom de apelo.

“O trabalho da empregada doméstica não é regulado pelas autoridades e, portanto, o sistema de salário mínimo e outras condições de vida não são controlados. As patroas podem fazer o que bem entenderem com esta classe desprotegida que precisa trabalhar e procura uma vida melhor”, desabafam umas e outras.

Sobre a questão, o sindicalista Mário Correia, que admite desconhecer a realidade da classe, explicou que as empregadas domésticas não se inscrevem nos sindicatos, e dificilmente procuram os préstimos da instituição, embora abrangidas pelo regulamento do Código Laboral.

“É uma classe complicada, precisamente pela característica do vínculo”, observou.

Por outro lado, reconhecendo o valor das empregadas domésticas, e admitindo essa necessidade, algumas donas de casa e funcionárias defendem a organização da camada para que possam sair dessa condição de vulnerabilidade, ter uma lei que as proteja, para que os seus direitos sejam igualmente reconhecidos, enquanto classe trabalhadora.

Até lá, a aplicação ou não de melhores condições a favor das empregadas domésticas dependem da consciência dos respectivos patrões.

SC/AA

Inforpress/Fim

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