*** Por Carina David, da Agência Inforpress ***
Mindelo,22 Mar (Inforpress) – Em Txon d’Holanda, perímetro agrícola criado pelo Governo, para 95 parcelas agrícolas, os agricultores andam descontentes com a má distribuição de água e desconfiam de furos ilegais na conduta que sai da Estação de Tratamento das Águas Residuais (ETAR).
A Inforpress deslocou-se ao perímetro, que fica a cinco quilómetros do centro da cidade do Mindelo e, na primeira abordagem aos agricultores, predomina a deficiente distribuição de água às suas parcelas agrícolas.
“Deficiente porque raras vezes a água chega com a pressão necessária para rega e, por causa disso, as plantações secam e as perdas financeiras são frequentes”, declara o agricultor Lourenço Tomé, 60 anos, que há 16 ali trabalha numa das parcelas de três mil metros quadrados.
Segundo o mesmo, sempre teve água suficiente para regar, mas, nos últimos tempos, optou por cultivar apenas uma parte da sua parcela e pela criação de gado, porque a água chega de forma fraca e insuficiente para irrigar todo o terreno.
“A água está fraca. Antes, tinha um reservatório e transformei-o num quarto para descansar. Agora, cultivo apenas um pouco de milho e cebola e tenho algumas cabeças de gado. Este problema está na bombagem da água da ETAR que nunca foi resolvido”, desabafa o agricultor.
O octogenário Cristiano de Pina também relatou o mesmo problema, ou seja, o fornecimento de água dura entre 10 e 15 minutos e não chega para molhar toda a extensão de terreno.
Para evitar prejuízo, afirmou, recorreu a aluguer de camiões cisternas que diariamente transportam água para a sua parcela.
“Tenho várias plantas e não posso deixá-las secar. A água que vem não dá para nada e, por causa disso, o custo é muito maior. Pago mais de dois mil escudos todos os dias para comprar água no carro da Câmara Municipal de São Vicente, mais 900 escudos a outro carro de água particular e mil escudos por dia aos meus trabalhadores”, adiantou Cristiano de Pina, queixando-se ainda do ataque de pragas na plantação de couve.
Na mesma linha, o agricultor santantonense José Manuel, 54 anos, declara não ter alternativas para regar o terreno, no qual trabalha em regime de arrendamento há quatro anos.
“O que nos afecta mais é o problema de água. Se tivermos pouca água as nossas plantações morrem. Neste momento, tenho apenas couve, não tenho opção de rega e espero a água da ETAR”, contou o lavrador, revelando ainda que “já está a pensar como vai “minimizar os estragos causados pelas pragas de gafanhotos, a partir do mês de Maio”.
Por sua vez, o presidente da Associação dos Agricultores de Txon d’Holanda, João Monteiro, considera que para resolver este problema é preciso uma intervenção conjunta da delegação do Ministério da Agricultura e Ambiente (MAA), que criou o perímetro agrícola, e da Câmara Municipal de São Vicente (CMSV), que gere a ETAR.
Segundo João Monteiro, é preciso uma conduta independente da Ribeira de Vinha para irrigar Txon d’Holanda, pois, concretiza, usa-se a mesma conduta com várias válvulas para diversas localidades e a água chega com pouca pressão a Txon d’Holanda, que é uma zona mais alta.
Ademais, o responsável disse que “já provou a existência de furos ilegais” nas condutas que “provocam fuga de água e dificultam a distribuição eficiente”.
Trata-se, segundo João Monteiro, de uma informação que é do conhecimento do delegado do Ministério da Agricultura, “que não resolve o problema”.
“Temos uma conduta de água que vem da ETAR, completamente violada. Quando fizeram o projecto de Txon d’Holanda deveriam ter escavado o tubo para ver onde é que tinha furos para tapar. Ao invés disso, o MAA pediu às pessoas que tinham furos para os tapar porque senão não lhes ligavam água, mas ainda há muitos sem tapar”, denunciou.
Em reacção, o delegado do MAA, Vitorino Silva, informou que no perímetro agrícola existem 96 agricultores e cada um tem uma parcela de três mil metros quadrados.
Para ele, a má gestão da água nesse local deriva-se da falta de organização dos próprios agricultores no terreno.
“Dizer que Txon d’ Holanda tem falta de água não corresponde à verdade, porque a água não é gerida nem pelo ministério nem pela câmara. O ministério apenas criou os perímetros com sistema de rega, aproveitando a linha feita pela câmara e que faz parte da EAR. Tudo o que lá foi feito foi entregue aos agricultores gratuitamente”, esclareceu.
O delegado explicou que a bomba da ETAR produz à volta de 130 toneladas de água/hora e que Txon d’ Holanda tem água das 7:30 até as 19:00, de forma ininterrupta.
A água, acrescentou, é enviada a esse perímetro agrícola quatro vezes por semanas e cada vez que fazem a bombagem chegam cerca de 900 toneladas para regar 30 hectares.
“Se fizermos as contas, 900 toneladas para 30 hectares dá cerca de 26 metros cúbicos de água por hectare, o que é suficiente para irrigar Txon d’ Holanda. O que acontece é a questão de organização, porque a gestão e distribuição da água é feita pela própria associação”, afirmou Vitorino Silva, para quem “a delegação já dispensou o seu apoio a todos os agricultores no sentido de melhorar a sua forma de actuar, mas ainda falta organização”.
No entanto, segundo Vitorino Silva, “é natural que, quando se abre a água, as parcelas que ficam mais acima recebem-na com uma pressão menor”, mas, garantiu, “ nunca deixaram de a receber”.
Outro facto, explicou, é que os agricultores se deslocam para o terreno, mas quando às 10 ou 11 horas regressam para o centro da cidade, onde quase todos vivem.
“Muitas vezes, abandonam a parcela a regar ou entregam a um colega ao lado e às vezes duvidamos que a rega é feita. Normalmente, um agricultor permanece no seu terreno o tempo que for preciso”, arrematou Vitorino Silva, para quem o problema de falta de organização acontece apenas com esses agricultores, contrariamente aos outros da Ribeira de Vinha, que pertencem à outra associação.
CD/JMV
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