Viena, 09 Mar (Inforpress) – As emissões radioactivas libertadas após o acidente na central nuclear japonesa de Fukushima, em 2011, não produziram efeitos negativos para a saúde, segundo as conclusões de um comité de investigadores da ONU, hoje apresentadas em Viena.
Dez anos depois do acidente, “não foi documentado nenhum efeito adverso na saúde dos habitantes de Fukushima que possa ser directamente atribuído à exposição à radiação”, disse a presidente do Comité Científico da ONU sobre as consequências das Emissões Radioactivas (UNSCEAR), Gillian Hirth.
Segundo o comité, o aumento acentuado do número de cancros da tiróide em crianças expostas é atribuível a uma melhoria das técnicas de rastreio, que permitiram mostrar “a prevalência de problemas na tiróide na população jovem não detectados anteriormente”.
A alta incidência deve-se àquilo que os especialistas descreveram como “hipodiagnóstico”, que revelou muitos casos de cancro da tiróide que não teriam sido diagnosticados sem os exames realizados, nem teriam causado sintomas ou morte das pessoas afectadas.
Por outro lado, o relatório sublinha que o acidente teve impacto psicológico e social na população da região, obrigada a deixar as suas casas.
Entre os que tiveram de abandonar a região após o acidente, há dados de aumento da obesidade, problemas renais, diabetes e hipertensão, entre outros distúrbios, algo que está associado ao stress e às mudanças bruscas.
“Os efeitos psicológicos foram sobretudo evidentes entre as pessoas retiradas [da região] e incluíram stress, ansiedade, depressão, problemas com álcool e efeitos adversos na saúde psicológica entre filhos e mães”, acrescentou a UNSCEAR, assinalando que este tipo de diagnósticos foi diminuindo com o tempo.
O relatório também refere que a concentração de césio 137 (isótopo radioactivo de césio formado como um dos produtos de fissão nuclear) nos alimentos provindos do mar baixou rapidamente no Japão.
Em 2011, 41% das amostras apanhadas na costa perto de Fukushima apresentavam níveis acima dos máximos seguros, mas em 2015 essa percentagem caiu para 0,04%, garantem os especialistas.
Em relação à vida animal, os investigadores continuam a considerar “improvável” que se tenham registado impactos regionais relacionados directamente com a radioactividade emitida durante o acidente, embora considerem possível que tenham sido afectados “organismos individuais”.
Em termos gerais, o relatório da UNSCEAR hoje divulgado confirma as principais conclusões do relatório de 2013, apresentando, de acordo com uma declaração da ONU, “uma avaliação melhorada e mais sólida dos níveis e efeitos da radiação causada pelo acidente”.
As novas informações, em conjunto com investigações anteriores, permitem, por exemplo, garantir que alguns níveis de radiação recebidos pela população foram inferiores aos inicialmente calculados.
O desastre de Fukushima aconteceu devido a um terramoto com magnitude 9 na escala de Richter, seguido de um ‘tsunami’, que inundou a fábrica e levou a que três dos seis reactores nucleares derretessem.
O acidente causou a libertação de emissões radioactivas significativas no ar, água e solo da região, localizada a 220 quilómetros de Tóquio.
Cerca de cem mil pessoas tiveram de deixar as suas casas e cerca de 19.000 pessoas morreram no desastre natural.
O acidente de Fukushima foi o pior acidente nuclear depois do de Chernobyl (Ucrânia), em 1986, quando foi observado um aumento do número de cancros da tiróide.
Inforpress/Lusa
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