Cidade da Praia, 26 Abr (Inforpress) – O Presidente da República, José Maria Neves manifestou-se hoje “preocupado” com a situação actual do país, e acusou o Governo de estar “descoordenado” e de ser incapaz de implementar políticas públicas que resolvam os problemas do arquipélago.
“São indicações para análise da sociedade cabo-verdiana, em muitos aspectos temos claramente descoordenação entre instituições, departamentos governamentais no desenho e na implementação de políticas públicas, isso é evidente e a sociedade cabo-verdiana tem constatado estas questões”, afirmou o Chefe de Estado.
José Maria Neves, que falava esta manhã numa declaração ao país sobre a situação política nacional, avançou que teve a oportunidade de ouvir as declarações de todos os partidos políticos com representação parlamentar, especialistas, economistas e várias personalidades independentes sobre diferentes aspectos das políticas públicas em Cabo Verde.
Segundo o Presidente da República, é consensual que há contradições, descoordenação, ruídos nos discursos públicos e na forma como determinados contratos e determinadas políticas têm sido abordados pelas autoridades nacionais.
“Constatamos um clima preocupante e persistente de excessiva partidarização do espaço público, assistimos a uma disputa política permanente que sufoca a sociedade, este ambiente é permeável ao clientelismo e ao medo, com as pessoas a serem escolhidas para cargos públicos e promovidas, menos pelo mérito e mais pelas suas relações de amizade ou pela sua lealdade a partidos”, afirmou.
Para o Chefe de Estado, a Nação inquieta-se e indigna-se com o “inegável retrocesso” em sectores vitais do arquipélago.
José Maria Neves manifestou ainda “preocupação” com as tomadas de decisões cujo propósito e cuja lógica não se entende, principalmente quando tudo levava a crer que medidas iam ser tomadas e elas até já haviam sido anunciadas, mas eis que as instituições públicas recuam e se apequenam.
Segundo disse, essas mesmas decisões, que são tomadas num dia para se recuar no dia seguinte, sinalizam que as mesmas não foram suficientemente amadurecidas.
“Não podemos, de ânimo leve, assistir a discursos contraditórios e descoordenação a nível da formulação de políticas, revelando falta de maturação das medidas com vista à sua implementação. Cabo Verde não pode dar-se ao luxo da experimentação como método de gestão do interesse público”, questionou.
No seu entender, a actual conjuntura internacional e os ingentes desafios existentes pela frente, tal é o caso do combate à pobreza e às desigualdades, não autoriza a continuar nesta mesmíssima forma de gerir o interesse público e a marca da razoabilidade não deve nunca ser forçada muito menos transposta.
Perante essas e outras inquietações, a mesma fonte defendeu que é preciso fazer uma profunda análise da actual situação, arrepiar caminho e encetar mudanças radicais e trabalhar com mais sentido de Estado e mais sentido de compromisso como um país vulnerável.
Durante a sua missiva, o Presidente da República apelou ao consenso, ao respeito pela diversidade de opiniões e à união no seio da Nação, tendo realçado que o país precisa de uma melhoria substancial do processo decisório, com mais sofisticação na tomada de decisões, para que elas sejam mais consistentes.
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