Santa Maria, 27 Abr (Inforpress) – O bispo de Mindelo, Dom Ildo Fortes apontou hoje dificuldades financeiras para suportar uma intervenção de fundo na Igreja paroquial de Nossa Senhora das Dores, em Santa Maria, na ilha do Sal.
Dom Ildo Fortes fez essas declarações quando confrontado com as queixas dos operadores turísticos, moradores e outros munícipes da ilha, sobre a situação da Igreja Católica na cidade turística, com sinais de avançado estado de degradação.
Confrontado com essas reclamações, Dom Ildo Fortes começa por elucidar que a igreja da cidade de Santa Maria, dedicada a Nossa Senhora das Dores, enquadra-se no contexto de todas as igrejas do País, isto é, de pessoas simples, que “vive ou sobrevive” com o apoio dos pobres, não tendo, por isso verbas, para permitir uma intervenção de fundo na igreja.
“A igreja não tem fins lucrativos e os seus fundos são apenas contribuições simples, dentro das possibilidades de cada um. E a prioridade da igreja são as pessoas”, justificou, asseverando que a gente deve envergonhar-se é de não cuidar dos pobres, ou não atender os que estão em sofrimento.
“Nós não nos envergonhamos do nosso espaço, por serem precários, pobres ou por não estarem restaurados, porque a pessoa está em primeiro lugar”, exteriorizou, avançando, entretanto, que há um projecto para a ampliação e restauração da Igreja em Santa Maria, colocando-se, porém, o problema da falta de dinheiro para a sua concretização.
Ainda quanto a projectos, Dom Ildo mencionou, por outro lado, a intenção de se construir uma igreja nova em Santa Maria, num espaço adquirido na zona do mercado, da polícia, só que isso vai depender, conforme disse, da capacidade financeira da igreja, porque a igreja “é dos pobres e vive pobre”.
“Nós somos os primeiros a sentir a igreja de Nossa das Dores como património nosso, que amamos e queremos bem. Mas aqui lanço um apelo, se todos juntarmos as mãos, é mais fácil a gente apoiar não só a igreja, como aquele que está lá perto e que também vive sem casa”, despertou.
“Portanto, há outras coisas que nos envergonham imenso. Há tanta miséria, é basta passar na rua do lado, onde estão os irmãos de outras ilhas, os que vêm da África ou irmos ao bairro de Alto São João, onde não há um mínimo de condições para se viver com dignidade, crianças no meio do lixo, nas barracas (…)”, comentou.
“Isso que é vergonha das vergonhas. Uma grande vergonha nacional, para uma ilha turística, que tem hotéis de cinco estrelas… aliás o turismo gera pobreza. A nossa desgraça é que, em vez de gerarmos riquezas, geramos ricos. Alguns estão ricos porque ganham com o turismo, mas há muitos pobres que vêm à procura de um trabalho e não têm condições de vida e de habitabilidade”, revelou em tom de crítica.
Ciente de que o turismo é uma espada de dois gumes, já que por um lado, traz algum emprego, algum movimento, o que é bom, conforme frisou, mas há esse outro lado que não pode ser esquecido.
“Antes de a gente comentar é preciso fazermos uma reflexão séria, uma análise séria de como é que está a nossa realidade”, advertiu.
Voltando à situação da igreja em Santa Maria, e na falta de condições financeiras para a sua restauração, Dom Ildo Fortes concluiu, dizendo que não vale a pena fazer apelo ao que está à vista de todos, enaltecendo, no entanto, as intervenções de requalificação que vêm sendo feitas, noutras igrejas do País, com o apoio do Governo.
“O bem público é uma praça, um mercado, uma escola, como também uma igreja, apesar de ser propriedade da Igreja. A igreja não vai mendigar… que os políticos se apercebam daquilo que são as prioridades do nosso País. Quando reconhecerem que a Igreja é uma mais valia, vão apoiar mais”, concluiu Dom Ildo, entre risos.
SC/HF
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