São Filipe, 20 Set (Inforpress) – Duas crianças, de 9 e 12 anos, da mesma família, identificadas pelo Instituto Cabo-verdiano da Criança e do Adolescente (ICCA) como crianças “na rua” foram encaminhadas no início da semana para a Aldeia Infantil SOS de São Domingos.
A delegada do ICCA na ilha do Fogo, Vanilda Correia, disse que o encaminhamento das duas crianças, ambas do sexo feminino, aconteceu depois da decisão do processo que decorria os seus tramites no tribunal da comarca de São Filipe.
As duas crianças, irmãs, viviam com o pai, que é um indivíduo com problemas de alcoolismo, já que a mãe que tem outros filhos não dispunha de condições.
Segundo a delegada do ICCA, na altura do encaminhamento das crianças para a Aldeia Infantil SOS de São Domingos, onde se encontra um outro irmão, apenas o pai apresentou resistência em deixá-las seguir e teve inclusive de ser detido pelas forças policiais, enquanto a mãe e outros membros da família aceitaram a decisão de forma pacífica.
Além dessas duas crianças, no seio da família existe outras crianças, pelo menos mais dois casos, identificadas na mesma situação e cujo processo foi encaminhado para o Ministério Público, estando apenas a aguardar a decisão do tribunal.
O ICCA tem registado nestes últimos tempos vários casos de crianças e adolescentes com problemas psicológicos e psiquiátricos que, segundo os técnicos desta instituição, muitas vezes são criadas pelas próprias famílias, nomeadamente as famílias instáveis, marcadas por agressão e violência verbal, problema de alcoolismo, sendo que as crianças apresentam um baixo autoestima e vários problemas.
Trata-se, no dizer da responsável do ICCA, de um fenómeno novo e que está sendo acompanhado pela instituição no sentido de aperceber a sua dimensão, observando que neste momento há alguns casos de crianças com problemas psíquicos e físicos que são mantidas “presas” pelos pais para poderem trabalhar, apontando o caso de uma criança com paralisia que é mantida fechada num espaço que não dispõe das melhores condições e que o instituto está a trabalhar no sentido de oferecer melhores condições.
Em relação a eventuais casos de crianças fora do sistema por estarem ocupados a trabalharem, Vanilda Correia disse que ainda é cedo e que não há registo de nenhum caso.
Quanto a abusos sexuais de crianças e adolescentes, Vanilda Correia, indica que nos meses de Julho a Setembro houve um aumento das denúncias e que nestes três meses os casos denunciados são igual ao registado no primeiro semestre.
Segundo a delegada do ICCA, no primeiro semestre de 2018 a delegação registou 13 denuncias de abuso sexual, sendo 12 na ilha do Fogo e um na ilha Brava e de Julho a Setembro (18) há registo de 12 casos, quatro por cada mês, sendo que esta semana, recebeu dois casos de denúncia.
Esta disse que não há dados comparativos para ver se há aumento dos casos ou aumento de denúncias, indicando que na sua perspectiva o que tem aumentado é a denúncia porque as pessoas estão mais sensibilizadas e atentas àquilo que passa nas suas comunidades.
JR/ZS
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