Governo reage com “estupefação” às declarações do PAICV sobre o reconhecimento da integridade territorial do Reino de Marrocos

Cidade da Praia, 12 Mai (Inforpress) – O Governo reagiu com estupefação às declarações do PAICV (oposição) sobre o seu reconhecimento da integridade territorial do Reino de Marrocos, considerando que a Política Externa deste Governo não é, nem pode ser, a política externa do PAICV.

Esta reacção vem na sequência das afirmações do presidente do PAICV que, em conferência de imprensa, esta quinta-feira estranhou o posicionamento do Governo em reconhecer a integridade territorial do Reino de Marrocos.

Na ocasião Rui Semedo lembrou “um grande impasse” criado pelas reivindicações do Reino de Marrocos e a guerra que se alastrava nesse território, em que a ONU decidiu pela consulta do povo saharaui, através de um referendo, e que Cabo Verde considerou “realista e pertinente” alinhar-se com a posição desta organização.

Entretanto, o Ministério dos Negócios Estrangeiros, Cooperação e Integração Regional, em comunicado, reagiu com “estupefação” a este posicionamento do maior partido da oposição, no qual advertiu que a política externa deste Governo não é, nem pode ser, a política externa do PAICV.

“O presidente do PAICV parece não entender que para um país como Cabo Verde ter uma política externa coerente, clara, credível, responsável e ao serviço do interesse nacional significa, acima de tudo, estar em condições de ler a evolução da situação internacional e desenvolver relações de parceria”, lê-se na nota enviada à Inforpress.

Relações essas que para o Ministério dos Negócios Estrangeiros permitem promover a defesa do interesse nacional, ao invés do “apego confortável ao passado e princípios e valores assumidos de forma estática”.

A postura do PAICV, segundo a mesma fonte, está marcada por pressupostos ideológicos que ficaram patentes relativamente à questão do Sahara Ocidental e à não condenação da invasão da Ucrânia pela Rússia.

“Mesmo assim, convém dizer que o congelamento das relações com a RASD aconteceu no tempo do último governo do PAICV”, lembrou, afirmando que esta visita ao Marrocos liderado pelo primeiro-ministro, inscreve-se no posicionamento claro de Cabo Verde nas suas relações com o Reino de Marrocos, que resultou na abertura da embaixada de Cabo Verde em Rabat e do consulado geral em Dahkla.

Para a Governo, o PAICV ignora que hoje grande parte dos países africanos retiraram ou suspenderam o seu reconhecimento da RASD, sendo que 21 países já instalaram representação consular em Lâayoune ou Dakhla, dos quais dez deles membros da CEDEAO e da CPLP.

“Na verdade, estes números permitem afastar liminarmente a ideia de que a elevação do nível de relacionamento com o Reino de Marrocos pudesse causar algum embaraço a Cabo Verde”, observou, sugerindo ao PAICV que devia procurar saber a evolução do posicionamento de importantes e tradicionais parceiros de Cabo Verde em relação a esta matéria, já que fala em privilegiar o interesse nacional.

É que a defesa do interesse nacional, afirmou o Governo, não se faz no abstrato, mas sim por acção e considerando o contexto real, para quem não se pode falar em responsabilidade e sentido de Estado quando não se conhece o contexto em que se age.

O Governo reafirmou assim o entendimento de que a realização da visita em curso a Marrocos, incluindo a II Comissão Mista, representa um momento alto na construção de uma parceria forte, de uma nova era, abrangente e de longo prazo entre Cabo Verde e Marrocos.

Reiterou que a Política externa deve continuar a merecer uma análise profunda, cuidada, responsável, de todos os actores, a bem de Cabo Verde, prometendo continuar a executar uma política externa séria, credível e com previsibilidade.

ET/ZS

Inforpress/Fim

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