Governador do BCV aponta melhorias na organização das empresas como via para facilitar o acesso ao crédito

Cidade da Praia, 06 Jan (Inforpress) – O governador do Banco de Cabo Verde (BCV), Óscar Santos, aponta a melhoria na organização como via para facilitar o acesso ao crédito, sobretudo, às pequenas e médias empresas (PME) que representam o grosso do tecido empresarial cabo-verdiano.

As empresas cabo-verdianas muito têm se queixado das dificuldades no acesso ao crédito, quando os bancos comerciais, por outro lado, queixam-se dos excessos de liquidez.

Questionado pela Inforpress sobre que mecanismos poderão ser adoptados para facilitar o acesso ao crédito por parte das empresas, Óscar Santos sublinhou que o acesso ao financiamento não depende apenas dos bancos, mas também das próprias empresas, que precisam ter contabilidade organizada e apresentar bons projectos.

O governador lembrou que é preciso ter em conta que a liquidez dos bancos é dinheiro depositado pelos clientes que possuem alguma poupança entre os quais os emigrantes e neste sentido, defendeu que mesmo havendo excesso de liquidez, ela deve ser usada com precaução de modo a não perigar os depósitos e a manter a estabilidade e segurança do sistema financeiro.

“Há um estudo realizado pelo Banco Mundial que aponta que a maior parte das empresas cabo-verdianas não tem contabilidade organizada. É um obstáculo importante no acesso ao financiamento”, disse.

Óscar Santos salientou que apesar de todo o ecossistema que se criou, nomeadamente a Pró-garante, a Pró-empresa e mesmo o micro-financiamento, ainda falta trabalhar a questão da organização a nível de cada uma das empresas.

“Sem isso torna difícil os bancos concederem financiamento. Portanto em vez de estarmos cada um a culpar o outro, é melhor começarmos a trabalhar a nível da organização das empresas, sobretudo ter contabilidade organizada, contas auditadas, mais informações, para que os bancos possam ter o histórico das empresas e poderem com mais facilidade financiar o sector privado”, explicou.

Óscar Santos adiantou que o BCV, modernizou, este ano, a sua plataforma tecnológica de registo de crédito onde os bancos vão buscar informações sobre os créditos, por forma a decidir com base em informações sobre o risco de conceder crédito.

O Governo, conforme indicou, tem iniciativas do lado das políticas públicas, nomeadamente as instituições de apoio ao empresariado e as linhas de crédito bonificadas, que poderiam muito bem ajudar essas empresas, mas que por vezes não chegam às mesmas por falta de garantia.

Questionado sobre como avalia o comportamento das instituições financeiras durante o período de crise, o governador do Banco Central disse que o sistema  financeiro apoiou muito a economia e que contrariamente à 2009 esta crise encontrou um sistema financeiro mais resiliente e mais preparado, fruto das medidas que foram tomadas a nível mundial depois da crise de 2009.

“Em Cabo Verde, sem sabermos que estávamos fortalecendo o sistema para esta crise em particular, publicamos as duas leis estruturantes do sistema financeiro em 2014 que introduziram uma supervisão do sistema financeiro baseada no risco e um conjunto de medidas foram tomadas desde então o que permitiu fortalecer o actual sistema financeiro”, apontou.

Segundo disse, com esse sistema financeiro fortalecido, foi possível aos bancos e seguradoras consentirem alguns esforços e ajudar a aliviar a carga suportada pelas empresas e famílias, ao permitir as moratórias, pois caso contrário teriam que executar as garantias que são dadas pelos credores.

Da mesma forma lembrou que o sistema financeiro isentou durante certo período, muitos custos e comissões relacionados com as operações com clientes, por forma a evitar que as pessoas se deslocassem para as agências físicas e assim promover o distanciamento social.

“Os próprios accionistas tiveram de sacrificar os seus lucros para poderem aumentar os capitais próprios dos bancos”, sublinhou.

MJB/ZS

Inforpress/fim

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