Fogo: “Há um desinteresse de Cabo Verde em proteger e conservar sua biodiversidade” – Jacob González-Solís

São Filipe, 20 Nov (Inforpress) – O professor catedrático da Universidade de Barcelona (Espanha) Jacob González-Solís, que há 20 anos trabalha com Cabo Verde, disse que o país “não tem muito interesse em proteger e conservar” a sua biodiversidade.

O professor, que terminou mais uma missão de trabalho a Cabo Verde, em entrevista exclusiva à Inforpress avançou que o “futuro está complicado” devido a falta de interesse na protecção da biodiversidade, justificando que, nos últimos anos, as estruturas dos Parques Naturais que existem no país, por exemplo, continuam “muito fracas” e “estão quase a desaparecer”.

“Há uma falta de interesse na conservação da biodiversidade e na protecção dos espaços naturais”, apontou o professor, elucidando como exemplo o planeamento do Parque Natural do Fogo que devia ser revisto há vários anos, mas ainda não aconteceu.

As Organizações Não-governamentais (ONG) ligadas ao sector do ambiente estão a fazer um “grande trabalho, mas infelizmente o governo não aceita as críticas das ONG” e isso torna as coisas “complicadas de gerir”, continuou Jacob González-Solís, para quem é necessário corrigir aquilo que está mal.

“Como investigador, estou a trabalhar há muitos anos para entender quais são os problemas ambientais. Estou a visitar Cabo Verde desde 2003, há 20 anos, e nos últimos 15 anos faço três a quatro missões por ano, através da Fundação Mava, Projecto Vitó, Bio-CV, universidades e outras organizações. Dedicamos muito esforços para entender os problemas de conservação que existem”, disse o professor, para quem é “realmente desanimador” quando se depara com a falta de interesse dos decisores.

“Posso investigar mais 20 anos, mas se ninguém está a escutar e a entender quais são os problemas e tentar implementar soluções para quê investigar”, interroga Jacob González-Solís, que defende a necessidade de se encontrar soluções e implementar regulamentação para resolver os problemas ambientais, evitando que as pessoas que estão a investigar e identificar os problemas fiquem frustradas e desanimadas.

Avançou ainda que os investigadores podem prosseguir os estudos, mas não são políticos e não têm a capacidade de implementar os regulamentos, pressionar acordos de pescas, regular a entrada de pescadores nos ilhéus, por exemplo.

“Há muitos anos que estamos a defender a regulação de entrada de pescadores nos Ilhéus Rombos, Branco e Raso, porque esta entrada descontrolada de pescadores está a pôr em causa todas as espécies que reproduzem nestes espaços”, defendeu este investigador na área ambiental, com destaque para as aves marinhas, sublinhando que os investigadores estão a repetir isso há 20 anos enquanto os responsáveis continuam a olhar para outro lado.

Segundo o mesmo, muitas das ameaças e problemas estão bem identificados e demonstrados de várias formas, acrescentando que o que está a acontecer são problemas reais e que se nenhum político toma a decisão de os solucionar chega o momento de dizer para quê continuar a trabalhar.

JR/AA

Inforpress/Fim

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