São Filipe, 11 Jan (Inforpress) – A Associação dos Pescadores e Peixeiras da cidade de São Filipe mostra-se desiludida e indignada com o número irrisório de embarcações de pesca seleccionadas para serem fibradas a nível da ilha.
O Ministério do Mar, através do Fundo Autónomo das Pescas, anunciou no ano passado o financiamento de projectos de fibragem de embarcações pertencentes a agentes do sector residentes no país, num montante de até 100 mil escudos.
Na sequência do edital, o presidente da Associação dos Pescadores e Peixeiras de São Filipe, Jorge de Pina, recolheu a documentação exigida e que foi remetida em tempo útil, de aproximadamente 50 pescadores, número que considera ser bem maior porque alguns pescadores fizeram inscrição directamente com apoio de outras instituições ligadas ao sector.
Jorge de Pina considera que a nível da ilha o número de pescadores que se candidataram ao projecto é muito maior, mas dispõe de informações de que apenas duas embarcações de pesca foram seleccionadas em toda a ilha, e que o valor disponibilizado a um construtor naval é inferior ao prometido, não sendo assim suficiente para fibrar uma embarcação de cinco metros.
“Prometeram 100 mil escudos e fizemos todo o orçamento e os beneficiários estavam disponíveis para contribuir, mas fomos surpreendidos com a disponibilização de apenas 50 por cento (%) do valor”, referiu o presidente da associação, esperando que seja disponibilizada a outra metade e contemplem mais embarcações da ilha para que os pescadores possam beneficiar deste projecto e mudar o sistema de embarcações para evitar a ocorrência de acidentes no mar.
Além do presidente da associação, outros pescadores que operam no cais de pesca do porto de Vale dos Cavaleiros também se mostraram descontentes com a selecção de apenas duas embarcações.
O pescador Manuel António Nascimento Gomes Varela disse que entregou toda a documentação exigida para fibragem de bote há quase um ano e que continua à espera do valor de 100 mil escudos prometido.
“Fogo é só promessa e não temos condições, há espaço à vontade para construção de casas para depósito dos materiais de pescas. Podem nos enganar com alguma coisa e não apenas com palavra” defendeu o pescador.
Já o pescador e construtor naval Henrique Alves disse que o Governo é “prometedor e não cumpridor”, salientando que dos 100 mil escudos prometidos para a fibragem das duas embarcações seleccionadas foram depositados na sua conta 42.500 escudos, correspondente a 50 por cento de 85 mil escudos, valor que considera “insuficiente” para o trabalho e por isso está a equacionar a possibilidade de devolver o dinheiro disponibilizado.
“Os pescadores são discriminados pelos diferentes governos de Cabo Verde, apesar de não dependerem directamente do Governo”, disse Henrique Alves.
Outro pescador que opera no cais de pesca do porto de Vale dos Cavaleiros, João Amílcar Mendes de Pina salientou que sempre são enviados ministros da área da pesca para os enganar com propostas que nunca são cumpridas.
Além da questão da fibragem de embarcações, o presidente da associação indica que há muitas preocupações e que são do conhecimento das autoridades, sublinhando que há um desrespeito do Governo e dos responsáveis do sector da pesca para com os pescadores que operaram no cais de pesca do porto de Vale dos Cavaleiros.
“O crédito não existe para pescadores e o do Fundo Autónomo das Pescas é difícil de desbloquear”, referiu Jorge de Pina, lembrando que como presidente da associação recebeu promessas de três ministros das pescas para resolver as preocupações e nunca fizeram nada.
Para Jorge de Pina, já chegou o momento para uma intervenção para a criação de condições no cais de pesca, sobretudo na construção de espaços adequados para guardar os materiais à semelhança dos outros portos de desembarque da ilha e ter assim um cais digno, lembrando que em São Filipe faz-se desembarque de maior quantidade de pescados.
Outra preocupação antiga está relacionada com o desassoreamento do cais de pesca, observando que pontualmente são retiradas areias, mas desconhecem o fim que é dado a esse inerte, defendendo que a areia poderia ser usada como recurso para melhorar o cais de pescas e/ou para financiar um projecto para beneficiar os pescadores.
A associação reivindica o direito de explorar a areia para comercializar e mobilizar fundo para melhorar o cais de pesca, lembrando que necessita de um espaço coberto que funcione como estaleiro para reparação de embarcações de pescas, acertos de rede, mas também necessita de água potável, máquina de produção de gelo para conservação de pescados.
JR/ZS
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