Emigração significativa de jovens para Portugal é boa mas pode representar perda de mão-de-obra qualificada, embaixador

Lisboa, 10 Out (Inforpress) – O embaixador de Cabo Verde em Portugal considerou, numa publicação numa rede social, que a emigração de jovens para Portugal é boa para o arquipélago, mas representa perda de mão-de-obra qualificada, sobretudo no sector do turismo.

Numa publicação na sua página numa rede social, Eurico Monteiro lembrou que sobre a migração, tem sobressaltado duas questões, sendo uma sobre as dificuldades de obtenção de visto para Portugal e outra sobre as facilidades consentidas para a emigração massiva de cabo-verdianos para este mesmo país, ambas apontando o dedo ao Acordo de Mobilidade na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

“Obviamente que uma emigração significativa de jovens para Portugal (notícia globalmente boa…), traz um problema e que tem a ver sobretudo com a eventual perda de mão-de-obra qualificada necessária às empresas dos mais variados sectores da economia de Cabo Verde, mas especialmente do turismo”, considerou.

No entanto, o embaixador alertou que o Governo “não tem poderes constitucionais” de impedir um cidadão cabo-verdiano de emigrar, e que para um cidadão cabo-verdiano emigrar basta que o Estado estrangeiro de acolhimento lhe conceda autorização.

Eurico Monteiro recordou que as autoridades cabo-verdianas estiveram na dianteira de um projecto de Acordo de Mobilidade na CPLP que, para além de resultados práticos alcançados com a sua ractificação por quase todos os Estados-membros, colocou na agenda o tema durante mais de quatro anos, desde 2018 ao presente, “obrigando” todos os dirigentes políticos da comunidade a falar do assunto e a procurar soluções mais facilitadoras para a mobilidade.

Na sua opinião, Cabo Verde fê-lo de forma consciente e na convicção de, não só, corresponder às expectativas da “grande maioria” dos cidadãos, mas sobretudo no entendimento de que um País pequeno como o arquipélago “ganha relevância e maximiza” as suas potencialidades de desenvolvimento num quadro “mais vasto, mais alargado, de pessoas, empresas, organizações da sociedade civil, cultura, ciência e tecnologia”.

“Uma visão a prazo e não concentrada no próximo ano!  Fechados na pequena concha que é a nossa terra estamos condenados a ficar à margem das dinâmicas globais que atravessam o mundo moderno. Pode-se aceitar, sem rebuços, que, em regra, a emigração assenta num “problema” a montante, gerador da necessidade de busca de outras paragens. E, portanto, impõe-se sempre olhar para este lado da equação, naturalmente”, frisou.

Conforme disse, é pelo mesmo motivo que os cidadãos de vários países da Costa Ocidental da África têm emigrado para Cabo Verde, nos últimos 30 anos, e que faz com que os cabo-verdianos emigrem para Portugal.

“Ao mesmo tempo que se impõe sermos cada vez mais capazes de acelerar o processo de desenvolvimento, também urge encarar a emigração como um factor positivo para o País, não só porque oferece melhores condições materiais de vida aos emigrantes e suas famílias (e, também é certo, diminui a pressão sobre as autoridades locais relativamente a um conjunto de matérias), como também constitui elemento gerador de investimentos”, indicou.

O embaixador também apontou o facto de a emigração ser gerador de remessa, de divisas, de “aumento da relevância” do País de origem junto do Estado de acolhimento e de transferência de conhecimentos, com impacto a nível nacional e local, “fortalecendo cada vez mais a resiliência” do País.

“Para além das remessas e dos investimentos, os países de acolhimento têm proporcionado condições para a formação de quadros de notável competência técnica e científica e para a produção cultural, artística e desportiva de elevada qualidade. O que só enriquece Cabo Verde”, enalteceu.

Tendo em conta que saem, com destino a Portugal, pessoas com formação profissional diversa e que “fazem falta ao País”, o que significa que as empresas e autoridades devem “intensificar ainda mais” a formação profissional em função do mercado e os empregadores “terão que fazer um esforço adicional” para oferecer melhores condições de trabalho aos seus trabalhadores, melhorando a sua qualidade de vida.

Estudos demonstram, conforme ele, que sempre que tenha existido uma liberalização na migração, num primeiro momento se regista uma enorme procura e com um fluxo significativo da região mais pobre para a região mais desenvolvida, mas que com o tempo o fluxo migratório tende a estabilizar-se, muitas vezes diminuído e até se verificou algumas vezes um movimento de significativos retornos ao país de origem.

“Não há, pois, nenhum drama, é o mundo global e livre no seu percurso normal, cabendo aos governos e às empresas transformarem um problema, ou aparente problema, em oportunidade”, conclui.

DR/HF

Inforpress/Fim

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