“É um tiro no pé tentar denegrir ou diminuir a figura de Cesária Évora” –Ministro da Cultura

Cidade da Praia, 09 Mar (Inforpress) – O ministro da Cultura e das Indústrias Criativas, Abraão Vicente, afirmou hoje que Cesária Évora é incontornável e dá credibilidade à música cabo-verdiana, salientando que “é um tiro no pé tentar denegrir ou diminuir a sua figura.

“A Cesária é consagrada não pela opinião de governantes, mas é consagrada pelo mundo. Quem anda pelo mundo sabe que para abrir portas, para se saber onde é Cabo Verde não se abre o google maps, diz-se Cesária Évora”, disse o ministro, quando instado a comentar as declarações do músico Paulino Vieira, segundo as quais, “o sucesso de Cesária condenou a música de Cabo Verde ao extermínio”.

Abraão Vicente disse que respeita Paulino Vieira, que afirma que é também uma figura inabalável, não pela sua opinião, mas pela sua obra, salientando, contudo, que história não se faz apenas de uma voz, de uma versão ou de uma opinião.

“O Paulino é uma pessoa relevante para a história da cultura e prova disso é o impacto que a entrevista teve, mas nem sempre nós temos de ter razão. Eu não tenho que dar razão ou tirar razão ao Paulino. É o meio artístico, é a liberdade de expressão. Ele pode expressar da forma como quiser. Eu como ministro da cultura e nós como Governo não sentimos afectados”, disse.

Abraão Vicente afirmou que Cesária Évora continua a ser uma figura incontornável da cultura cabo-verdiana e a expoente maior de Cabo Verde.

“Não é uma construção nem uma imposição do Governo de Cabo Verde. É algo que está enraizado pelo percurso que a Cesária fez e nós como país só nos cabe tirar proveito do prestígio internacional da Cesária Évora”, acrescentou realçando que que todos os países têm grandes figuras.

“Portanto, seria tiro no pé qualquer governante ou qualquer cabo-verdiano alimentar uma polémica que põe uma causa uma figura maior…Há sítios onde os nossos políticos não estão conhecidos e Cesária é. Portanto, eu creio que é um tiro no pé tentarmos denegrir ou diminuir a figura de Cesária Évora”, realçou.

O ministro da Cultura aproveitou para esclarecer que a candidatura da morna a património da humanidade não foi baseada na história da Cesária Évora, mas sim na história do povo cabo-verdiano.

“Eu não sei quem passou essa percepção. O dossier está disponível.
É preciso que as pessoas voltem sempre aos factos para compreenderem que não vale a pena as grandes frases. Hoje no tempo das redes sociais sempre que há uma bombinha…as pessoas espalham e tentam criar credibilidade”, lamentou.

Em relação à declaração de que a candidatura da morna foi sustentada em histórias falsas, o ministro disse que esta é opinião que põe em causa o IPC, toda a equipa técnica e os expertise da UNESCO.
Por outro lado, afirmou que a declaração de Paulino Vieira é falsa porque a validação da candidatura foi feita com base em testemunhos e aceitação de quem pratica o género.

“Temos um dossier com histórias não da Cesária, não do Paulino, não do Bana, não da Titina, mas a história do povo cabo-verdiano comum”, disse propondo a realização de conferência para explicar o que foi a candidatura da morna.

“Parece que ninguém estudou aquilo que foi o dossier da morna. Para mim este é o grande escândalo nacional. Quatro anos depois as pessoas ainda insistem em falar de uma candidatura da norma como se tivesse sido uma coisa abstrata.

O compositor e músico cabo-verdiano Paulino Vieira, autor e intérprete de algumas das mais famosas mornas, lamenta que este género musical tenha estagnado após o sucesso de Cesária Évora e que, desde então, tenha caído no “pimbalhaço”.

“A morna não teve sucesso com Cesária. A morna estagnou, parou ali”, disse Paulino Vieira, em entrevista à agência Lusa, em Lisboa no dia 05 de Março.

Paulino estendeu as críticas à candidatura da morna a património mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), classificação que obteve em 2019.
MJB/JMV

Inforpress/fim

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