Washington, 17 Mai (Inforpress) – O Presidente dos EUA, Donald Trump considerou hoje estar a ser vítima de um “tratamento injusto” na sequência das acusações de entrave à justiça e de transmitir segredos à Rússia, traindo o aliado israelita.
“Nenhum homem político na história, e digo isto com muita certeza, foi tratado de forma tão injusta”, lamentou o 45.º Presidente dos Estados Unidos durante um discurso na Escola da Guarda costeira norte-americana.
Aos alunos presentes, transmitiu um conselho inspirado pela sua própria aventura política: “Nunca, mas nunca se deixem derrubar”.
Estas frases foram a única alusão do chefe de Estado ao ambiente de crise que desde há uma semana alastra pela capital federal dos EUA, e quando os seus aliados republicanos ainda parecem apoiá-lo, apesar de estarem a abordar a atual situação de forma particularmente séria.
O multimilionário, que ocupa a Casa Branca desde 20 de janeiro, começou por despedir James Comey da chefia do FBI, apresentando como pretexto a sua gestão no caso dos correios eletrónicos de Hillary Clinton, antes de admitir que tinha decidido há muito o seu afastamento.
Trump está ainda exasperado pela persistência do inquérito sobre um eventual conluio entre os membros da sua equipa de campanha e a Rússia.
De seguida, o New York Times revelou que, em fevereiro, terá pedido a Comey para arquivar o inquérito sobre Michael Flynn, o seu efémero conselheiro para a segurança nacional e suspeito de contactos duvidosos com os russos. Comey registou por escrito esta tentativa de abafar um inquérito, e que foram de seguida progressivamente revelados pelos ‘media’.
O Congresso reagiu e na quarta-feira pediu a Comey para testemunhar numa audição pública, exigindo ainda a apresentação dos seus apontamentos, que se tornaram nos documentos mais cobiçados nos Estados Unidos.
Perante uma situação turbulenta, juntou-se ainda outro caso distinto, que segundo os detratores do Presidente reflete a sua capacidade em exercer a função suprema.
Em 11 de maio, transmitiu ao chefe da diplomacia russa e ao embaixador de Moscovo, em pleno Gabinete oval, informações secretas sobre um projeto de operação do grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico (EI).
A Casa Branca não contesta estas revelações, mais insiste que a partilha de informações é uma prerrogativa absoluta do Presidente.
No entanto, fonte da administração confirmou à agência noticiosa France Presse que estas informações ultrassecretas tinham sido fornecidas por Israel, cujos métodos e fontes nos territórios da organização ‘jihadista’ se arriscam desta forma a serem revelados.
Na Rússia, o Presidente Vladimir Putin ironizou sobre os conflitos instalados em Washington e propôs ao Congresso fornecer a transcrição do encontro no Gabinete oval, para provar que o Presidente norte-americano não divulgou nada de secreto.
Em Israel, onde Trump é esperado na segunda-feira durante um périplo internacional, o Governo absteve-se de qualquer comentário.
O secretário da Defesa norte-americano, James Mattis, negou “qualquer perturbação” nas relações com os aliados dos EUA, mas diversos observadores interrogam-se sobre o futuro da cooperação entre aliados na área das informações.
“Os acontecimentos das duas últimas semanas abalaram a minha confiança na competência e credibilidade desta administração”, observou Chuck Schumer, chefe da oposição democrata no Senado.
De momento, os republicanos recusam aliar-se aos apelos da oposição democrata para a nomeação de um procurador especial para retomar o inquérito sobre a Rússia.
No entanto, a generalidade dos eleitos ao Congresso sabe que o testemunho de James Comey será determinante para o futuro da Presidência Trump.
“Precisamos de factos”, declarou o presidente da Câmara dos representantes, Paul Ryan, apelando à calma e manifestando confiança no Presidente.
No entanto, começam a surgir fissuras no dique republicano.
Um grupo de republicanos é de momento favorável, com os democratas, à criação de uma comissão de inquérito independente sobre todas as incidências do “caso russo”.
Um deles é o senador John McCain, que comparou a situação, pela sua amplitude, ao escândalo do Watergate que em 1974 provocou a queda de Richard Nixon.
Inforpress/Lusa/Fim