Cidade da Praia, 20 Abr (Inforpress) – O arqueólogo e investigador do CHAN-Centro de Humanidade, José Bettencourt, afirmou hoje que é preciso alargar o projecto CONCHA para outras ilhas de Cabo Verde e apostar mais na formação dos técnicos para que possam desenvolver esses trabalhos.
O projecto CONCHA da Cátedra Unesco, iniciado em 2018, em Cabo Verde, visa desenvolver conhecimentos históricos e patrimoniais, no domínio da investigação, salvaguarda e valorização do legado subaquático.
Depois de um ano de campanha de acções de mergulho e de escavações subaquáticas, recolha e análises de peças nos mares de Cabo Verde, designadamente no ancoradouro da Baia de Cidade Velha, na Urânia (Baía do Ilhéu de Santa Maria – Praia), e baia de São Francisco, dentro de dias, a equipa responsável pela execução do projecto vai entregar os primeiros resultados ao Instituto do Património Cultural (IPC).
José Bettencourt, que falava em declarações à Inforpress, disse que foi feita uma geo-referenciação “muito fina”, ou seja, uma localização muito precisa de vários sítios arqueológicos acima mencionados.
“Esse mapeamento muito fino permitiu-nos avançar na investigação, saber qual o papel que cada um desses sítios teve na navegação do Atlântico, na história de Cabo Verde e na afirmação da identidade cabo-verdiana”, informou.
Os trabalhos foram desenvolvidos em articulação e em parceria com o IPC e com a colaboração das autoridades portuárias, isto é, a Polícia Marítima e a Guarda Costeira.
Conforme disse, essa colaboração com as autoridades fez com que estes estejam mais sensibilizados para a necessidade de monitorizarem esses sítios, ou seja, para acompanharem com mais frequência as actividades que se passam nesses sítios.
“Isto é um primeiro passo importante numa melhor gestão. Vai permitir ainda às várias instituições cabo-verdianas que estão a trabalhar, em conjunto, terem mais informação para poderem controlar melhor o que se passa nesses sítios” enfatizou.
Este projecto, sublinhou, vai permitir ao IPC implementar medidas de salvaguarda e de valorização destes patrimónios, através de várias iniciativas, quer através de novos conteúdos no museu de arqueologia, através de publicações e através da abertura à visita de alguns desses sítios.
José Bettencourt destacou ainda que a Urânia (Baía do Ilhéu de Santa Maria- Praia), já pode ser aberto para visitas, isto é, pode ser criado um circuito de visita subaquático, quase como um museu subaquático.
“Isto é uma recomendação que nós achamos que será importante, nos próximos meses, tentar implementar uma estrutura de visitação e ter conteúdos que permitam um mergulho com mais informação desses naufrágios”, recomendou.
Ainda com mais três anos de trabalho, o arqueólogo avançou que vão continuar a desenvolver os trabalhos nesses sítios, mas ainda a ideia é continuar a mesma dinâmica em outros municípios da ilha de Santiago e ainda alargá-la para outras ilhas do arquipélago, pois, “o país tem um imenso património cultural subaquático”.
Este arqueólogo realçou a necessidade de apostar na componente formativa, isto é, mais acções de formação para os técnicos do IPC, para que eles possam desenvolver os trabalhos sistemáticos nos sítios do arquipélago que vão surgindo nos próximos anos.
A mesma fonte insta o IPC a continuar nesse trabalho de valorização dos patrimónios culturais subaquáticos, uma vez que, a seu ver, são patrimónios da humanidade.
“Cabo Verde tem o privilégio de o poder salvaguardar porque está nas suas águas, mas também é o património da humanidade porque os bens que encontramos aqui e essas evidências correspondem a uma multiplicidade de origem, desde as Ilhas Britânicas, França, Espanha, Portugal”, disse, assegurando que toda a humanidade está aqui representada.
AM/ZS
Inforpress/Fim