Agentes culturais saem às ruas nesta quinta-feira para demonstrarem o seu descontentamento

Cidade da Praia, 12 Jan (Inforpress) – Os agentes culturais de Cabo Verde vão sair às ruas do País, no dia 14, para demonstrarem publicamente o seu descontentamento e a precariedade do sector das artes, cultura, entretenimento e indústrias criativas, durante este período de pandemia.

Esta marcha, que terá lugar às 16:00 na cidade da Praia (Santiago), no Porto Novo (Santo Antão), São Vicente, São Nicolau, Sal, Boa Vista e Fogo é uma iniciativa da sociedade civil independente.

Com o Slogan “Nu cre trabadja, cultura sta de Luto” (Queremos trabalhar, a cultura está de luto) desta vez a iniciativa não só envolve os artistas, mas todos os que estão ligados ao sector da cultura, desde promotores de eventos, Dj, músicos, entre outros profissionais.

A primeira manifestação silenciosa feita pelos músicos e profissionais do mundo das artes e espectáculos de Cabo Verde teve lugar no passado dia 18 de Outubro de 2020, por ocasião do Dia Nacional da Cultura, onde apelaram à retoma do sector que desde Março esteve parado, por causa da covid-19.

Segundo os organizadores, os artistas querem trabalhar de forma legal e seguindo todas as medidas de segurança, ajudando na saúde pública, sobretudo a saúde económica do País e das suas famílias.

O artista Zé Rui de Pina, que desde o início da pandemia tem apoiado os colegas através da campanha “Abraço Musical”, disse à Inforpress que abraça esta causa porque todos estão a passar por “momentos de dificuldades”.

“Fomos os primeiros a parar e até ainda não temos licença para trabalhar. Sempre que pretendemos fazer algumas actividades não recebemos licença por parte das autoridades de saúde porque alegam que isto vai causar aglomerações, mas, no entanto, vemos muitas coisas a acontecerem de forma ilegal, enquanto nós não temos autorização para trabalhar”, criticou.

Para o mesmo, já é hora de dizer “basta” à falta de iniciativa por parte do Governo que, a seu ver, “abandonou” a classe.

“É necessário tomarem alguma medida porque fala-se muito da nossa cultura, o contributo da cultura e não há turismo sem cultura, mas (…) vemos os nossos artistas abandonados, isto é mesmo triste. Já cansamos de esperar”, lamentou.

Zé Rui de Pina disse ainda que há meses que o ministro da Cultura e das Indústrias Criativas, Abraão Vicente, deveria ter-se reunido com os artistas e agentes culturais no sentido de encontrarem uma solução para o sector, mas isto não aconteceu.

Numa publicação na sua página pessoal do Facebook, o ministro Abraão Vicente esclareceu que o sector da cultura não está “legalmente” fechado e que todas as actividades foram devidamente regulamentadas desde Outubro de 2020.

“Não ler ou ignorar a lei não muda a realidade. Quem quisesse trabalhar no sector tinha, desde essa altura, todas as regras estabelecidas”, afirmou.

Para o ministro, o que se procura na realidade (com esta manifestação) não é apenas o “bem comum dos artistas ou a salvação do sector da cultura”, mas sim, “claramente, a possibilidade da realização de eventos culturais de massa em plena pandemia”.

O motivo é claro, prosseguiu, “apenas esses eventos dão lucro às empresas promotoras”.

“Não é a arte e a cultura na sua essência que estão em causa. Todas as lutas são legítimas e devem ser encaradas com a máxima serenidade, mas também com a máxima objectividade e o máximo sentido de defesa do interesse comum”, disse, ajuntado que o que está em causa é a procura de financiamento para “injectar capital em empresas de produção cultural que deixaram de ter todos os grandes eventos municipais e nacionais”.

Como forma de contestar que o Governo não fez nada para a classe, Abraão Vicente escreveu no mesmo ‘post’ que as empresas do sector da cultura, devidamente registadas, foram incluídas em todos os incentivos fiscais, às medidas de ‘lay off ‘e às de acesso ao crédito que as demais empresas obtiveram.

“A grande maioria dos artistas residentes no país que fazem, por exemplo da música, a sua ocupação a 100% já receberam, ou receberão nos próximos dias, um valor financeiro de apoio incluído nas medidas extraordinárias anunciadas pelo Sr. primeiro-ministro em Dezembro no quadro da aprovação do Orçamento do Estado”, apontou.

Ainda, elencou, foram transferidas cerca de cinco milhões de escudos entre o natal e esta data.

Abraão Vicente voltou a criticar os agentes culturais que não manifestaram publicamente a favor de um aumento do orçamento do Ministério da Cultura e das indústrias criativas ou “sequer fizeram qualquer proposta” neste sentido no quadro do debate e da aprovação do Orçamento do Estado.

Na cidade da Praia a marcha terá início às 16:00 em frente ao Palácio do Governo, na Várzea.

AM/ZS

Inforpress/Fim

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