Nova Sintra, 03 Dez (Inforpress) – O grupo parlamentar do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV - oposição) fez hoje um balanço preocupante da situação socioeconómica da Brava e afirmou que já foi possível constatar um cenário “pior do que o esperado”.
Em declarações aos jornalistas, o líder da bancada, Clóvis Silva, que encabeça a comitiva, salientou que, apesar de ser apenas o terceiro dia de trabalho no terreno, já visitaram a comunidade de Furna e a população revelou um sentimento generalizado de “abandono”, expressão repetida frequentemente pelos moradores.
“A ideia central é ouvir as pessoas, ouvir as suas preocupações, porque sabemos que a ilha padece de uma enormidade de problemas”, afirmou.
A delegação chegou à Brava “especialmente preocupada” com o sector dos transportes, problema que, segundo Clóvis, se confirmou como ainda mais grave, isso embora o navio que serve a ilha tenha operado diariamente na última semana, o abastecimento de produtos de primeira necessidade piorou.
Silva denunciou que os comerciantes não conseguem transportar mercadorias com os seus próprios camiões devido ao modelo operacional adoptado pela CV Interilhas.
“Aparentemente a empresa colocou o seu próprio serviço de camiões, encarecendo enormemente os produtos. Muitos comerciantes estão a recorrer a navios de cabotagem de uma outra agência para conseguir abastecer a ilha”, explicou.
O resultado, segundo o líder parlamentar, é a falta de produtos essenciais nos mercados locais e dificuldades de acesso a bens básicos, incluindo água.
Outro ponto crítico identificado pela comitiva é a situação do projecto de dessalinização do município, tendo em conta que o equipamento, que representa um investimento de cinco milhões de euros, encontra-se inoperante devido ao elevado nível de manganês na água.
As alternativas estudadas para tratar o problema, segundo Silva, “não irão produzir resultados tão cedo”, o que prolonga o risco de escassez de água na ilha.
No que tange à área da saúde, actualmente, apenas seis enfermeiros permanecem na ilha, número considerado “insuficiente” para garantir o funcionamento regular dos serviços.
“Não há autonomia para contratualizar serviços de apoio. O trabalho torna-se sobrecarregado e não há condições para assegurar turnos adequados”, denunciou, alertando que a continuidade dos serviços essenciais de saúde está em risco.
Clóvis Silva realçou ainda que os pequenos comerciantes atingidos pelo incêndio ocorrido no início deste ano continuam desamparados, apesar de uma resolução do Governo que prevê apoio superior a seis milhões de escudos, “o valor ainda não foi disponibilizado”.
O município, segundo o líder parlamentar, já iniciou a reabilitação do espaço com apoio do PNUD, mas os comerciantes continuam sem assistência directa do Estado.
Diante do quadro apresentado, o Grupo Parlamentar do PAICV apelou a uma maior intervenção governamental.
“Precisamos que os membros do Governo, nomeadamente o primeiro-ministro, vejam a Brava com outros olhos, com mais sensibilidade e interesse em apoiar as nossas populações”, concluiu.
A visita da delegação continua, com o objectivo de recolher mais informações e apresentar propostas para enfrentar a crise que afecta a ilha.
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